A queda de Andrew Cuomo, que foi obrigado a renunciar ao cargo de governador de Nova York após ser acusado de assédio sexual por 11 mulheres, provocou um estrago na imagem do irmão dele, Chris Cuomo, um dos principais âncoras da CNN.
A polêmica começou em março. O apresentador anunciou ao vivo na TV que não iria noticiar nem comentar as denúncias contra Andrew. Visto como omisso, ele foi chamado de hipócrita e teve a imparcialidade jornalística contestada por telespectadores e colegas de imprensa.
Chris ficou em situação ainda pior quando o respeitado jornal ‘The Washington Post’ revelou que ele participou de inúmeras teleconferências com o irmão político para orientá-lo como rebater os relatos das vítimas e aproveitar o espaço na mídia para ganhar apoio popular. Advogados e assessores participaram dessas reuniões on-line.
De acordo com a matéria, o âncora da CNN estimulou o governador sob suspeita a não renunciar e criticar a “cultura do cancelamento” que afeta figuras públicas. Chris não teria demonstrado nenhuma preocupação ou solidariedade com as mulheres que denunciaram seu irmão.
Professores de comunicação ouvidos pela imprensa norte-americana, entre eles Nicholas Lemann, da Universidade Columbia, de Nova York, disseram que um jornalista não pode se envolver diretamente em política tampouco colaborar com estratégias de defesa de um acusado.
“Quando se trata de credibilidade e confiança, as pessoas não veem repórteres individualmente. Elas veem ‘a mídia’. Então, quando um jornalista faz escolhas questionáveis, a mancha pode facilmente se espalhar para outros jornalistas”, afirmou ao USA Today a diretora de Ética Jornalística da Universidade Wisconsin-Madison, Kathleen Bartzen Culver.
Sob pressão, a CNN admitiu que Chris Cuomo errou ao atuar em benefício do irmão, mas o canal de notícias não aplicou nenhuma advertência ou punição a seu contratado. Com a credibilidade enfraquecida, o apresentador apresentou um pedido de desculpas diante das câmeras. Não convenceu.
No momento em que Andrew Cuomo deixa o poder, Chris está em férias. Coincidência ou sumiço proposital da TV para se preservar? Quando (e se) voltar à bancada do ‘Prime Time’, o jornalista será alvo de nova contestação. O relatório do procurador-geral de Nova York que culminou na renúncia do governador diz que Chris Cuomo teve atuação maior do que se sabia até agora no gabinete de crise do irmão.
No ‘New York Post’, a editora Maureen Callahan foi implacável: “Um já caiu. Falta o outro. Agora que Andrew Cuomo renunciou, seu irmão, Chris, deve ser o próximo. Afinal, ambos são culpados de graves violações da ética”. Esse escândalo está longe do fim.