Em 15 de abril de 2019, eu estava de férias em Paris quando liguei a TV e vi as imagens ao vivo do incêndio na catedral mais famosa da França, a Notre Dame, dedicada à Nossa Senhora.
Meu instinto de jornalista me fez trocar de roupa, pegar o metrô e ir de Montmartre, no norte da cidade, até a Île de la Cité, na área central, para ver de perto.
Dois dias antes, eu havia visitado a igreja, que passava por uma restauração no telhado. Não sou religioso, mas gosto da arquitetura de templos. Subi até as torres e fiz foto ao lado de um dos gigantescos sinos.
Ao chegar perto da Notre Dame cercada de fumaça, constatei o horror no rosto de centenas de parisienses aglomerados dos dois lados do rio Sena. Era uma parte relevante da identidade cultural deles que queimava.
No dia seguinte, voltei ao local, apurei informações, postei matéria no Terra, fui entrevistado por um colega jornalista de outro veículo e gravei imagens para um telejornal do Brasil.
Todo jornalista quer estar no epicentro de uma grande notícia, ser testemunha ocular de um fato acompanhado pelo planeta.
Confesso que fui tomado por sentimentos conflitantes: empolgação por fazer uma cobertura importante e, ao mesmo tempo, tristeza pela destruição de um patrimônio que sempre admirei.
Voltei a Paris em 2020, 2023 e 2024. Sempre fui até a Notre Dame para conferir o processo de restauração. Visitei uma exposição em uma área de subsolo lado da igreja, com detalhes sobre o incêndio.
O vídeo com imagens internas impressiona: não sobrou quase nada. A fachada intacta escondeu o caos. Por isso, foram necessários longos 5 anos e gastos quase 1 bilhão de dólares para a reconstrução.
A reabertura da Notre Dame, neste 7 de dezembro, é um presente aos moradores de Paris, aos franceses em geral e aos turistas. Agora, além da beleza de sua edificação e do aspecto sacro, a catedral representa o talento humano para resgatar a própria história.