Quem vê Elias Ustariz aproveitando o que Chicago e Los Angeles podem oferecer talvez não imagine o que ele tem a contar sobre sua experiência como professor do quadro 'Dança dos Famosos', do antigo 'Domingão do Faustão', que ganha uma nova temperada a partir de domingo, 27, no 'Domingão com Huck'. O bailarino participou da atração em 2018, quando fez par com a atriz Erika Januza.
"Parceria incrível", diz o venezuelano que tentou a sorte no Brasil para fugir da crise do país, iniciada em 2014.
Os relatos do professor indicam desrespeito, incômodo de alguns artistas e até impacto psicológico da avaliação rígida do júri técnico. Em entrevista ao Terra, ele critica ainda a forma como a avaliação era conduzida entre os famosos que eram escolhidos para julgar os competidores.
"Eles vão muito no pensamento: ‘Se você me tocou no coração, eu vou te dar 10’, o que não é muito correto, pois é uma competição de técnica. O programa é de dança, não de superação", opina.
Confira abaixo a entrevista na íntegra!
Terra: Você foi parceiro de Erika Januza em 2018, certo? Como foi a parceria com a atriz?
Ustariz: A parceria foi incrível. Ela é uma pessoa super humilde, educada... Nem tem o que falar dela. Foi uma das melhores parceiras que tive na vida. Mas não foi assim para alguns dos meus companheiros de elenco [dançarinos]. Teve artista que não respeitava o professor. Tinha atriz que chegava na sala e desrespeitava o professor, não curtia nada, queria dirigir o professor.
Foi muito difícil conduzir essa temporada, tanto para nós, professores, quanto para as meninas que integrava o balé do Fausto. Tinha gente que não aceitava fazer nada, queria trocar passos... Era uma dor de cabeça para os meus colegas.
A gente tinha dois dias para elaborar a coreografia (sábado e domingo). Na segunda, mostrávamos ao coreógrafo do programa, que tinha direito de mudar muita coisa. Depois desse pente fino, a gente tinha que adequar as movimentações, jogadas e já ensaiar no mesmo dia. Um ensaio de apenas duas horas - isso até entendo porque é igual para todos.
Terra: Participar do programa te deu visibilidade? O que deu para colher de frutos do programa?
Ustariz: Me deu! Ainda mais que depois Fausto ajudou a contar minha história, então fui muito bem recebido pelo público, fiz pulibicidades, trabalhei bastante. Juntei um bom dinheiro, não posso reclamar.
Terra: Qual era o maior desafio de ser estar na posição que estava no 'Dança dos Famosos'?
Ustariz: Meu maior desafio foi passar pelos filtros da Globo. Eu estudei muito, fiz cursos… dei tudo de mim. Para entrar no programa, a gente passa por cinco testes. O desafio, para mim, além do processo para entrar, era a preparação das coreografias. Nós tínhamos pouco tempo [dois dias], mas mesmo assim conseguimos apresentar um trabalho bem legal.
Terra: Como era o processo de ensaio? Você quem criava o cronograma ou tinha tudo estipulado pela emissora? Você tinha suporte da empresa?
Ustariz: Sim, todas as viagens e hotéis eram subsidiados por eles.
Terra: Quanto ao júri, o que achou do que foi escalado para sua temporada?
Ustariz: Eles escolhem famosos para o júri para dar mais visibilidade, mas, geralmente, quem está ali não entende de dança. Eles vão muito no pensamento: ‘Se você me tocou no coração, eu vou te dar 10’, o que não é muito correto, pois é uma competição de técnica. Tem também os amigos de Fausto, que são os convidados que têm direito de serem mais rígidos. Aconteceu comigo na final, né? Eu fiquei bem mal, porque eu estava ali recebendo as críticas e me senti maltratado [por Carlinhos de Jesus]. Por isso, gerou-se uma briga nas redes.
Na minha edição quem ganhou foi Leo Jaime e o povo nunca se conformou. Ele [Carlinhos] falou coisas feias para mim, coisas que não tinham nada a ver. Ele me julgou, entende? Eu, como professor, fiquei muito chateado com as críticas do júri. Erika, que sempre me puxou para cima, dizia: ‘Vamos parceiro’. O programa é de dança, não de superação. Sei que houve participantes que superaram muitas coisas, mas acredito que eles tenham que separar se é um programa de dança ou de superação.
Por causa da crítica do Carlinhos de Jesus, eu fiz um post no meu Instagram, muita gente criticou e me apoiou. Um produtor da Globo me ligou para que eu apagasse a postagem, pois eles tinham gostado de mim e me queriam em outras temporadas. Eu apaguei. Depois de um tempo, eu fui numa psicóloga e ela me diagnosticou com ansiedade e depressão. Fiz acompanhamento, ficava sempre ansioso, mal, deprimido... isso por tudo que o júri me falou. Fiquei 2018 com depressão, tomando remédio controlado. O público notava que o júri estava sendo escroto comigo.
Terra: É uma experiência que você teria de novo, o 'Dança'?
Ustariz: Por Fausto, e agora na Band, eu faria algo semelhante. Voltaria sim.
Terra: O que diria para os famosos que estão escalados para essa temporada?
Ustariz: Se tiver algum problema, olha no olho, fala com o professor. Seja parceiro, não faça coisas ruins. Eu lembro que, às vezes, a relação entre professor e aluno ficava tão ruim que a produção incentivava a gente a fazer vídeos para o programa dizendo que quebramos a perna ou a mão para sermos trocados. Tudo isso para não perderem o famoso do elenco.