Na campanha presidencial de 1989, na primeira eleição direta desde a redemocratização do País, Antônio Fagundes fez parte do programa eleitoral do então candidato Lula (PT).
Em um dos vídeos exibidos na propaganda na TV (disponível no YouTube), ele lê um poema do dramaturgo alemão Bertolt Brecht, defensor do marxismo.
Um trecho interpretado pelo ator diz: “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, não participa dos acontecimentos políticos”.
Quase três décadas depois, um dos mais brilhantes artistas brasileiros prefere se manter longe da política – e dos candidatos à Presidência da República.
É o que revelou em entrevista ao ‘Diário de Notícias’, um dos principais jornais de Portugal.
Fagundes é tão respeitado por lá, devido às novelas da Globo e aos espetáculos que encenou naquele País, que mereceu foto de meia página na capa da publicação.
Ele vai cumprir em teatros portugueses uma turnê da peça ‘Baixa Terapia’, sucesso de público e crítica visto por mais de 150 mil espectadores no Brasil.
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O ator, de 69 anos, explicou à repórter Ana Sousa Dias, do ‘DN’, a razão de ter se afastado da militância política.
“Tive um período longo da minha vida em que apoiei publicamente candidatos. Eu fui garoto-propaganda de alguns candidatos, até que percebi que não estava concordando com o que aqueles candidatos eleitos com a minha ajuda estavam fazendo a partir da eleição. Não tinha o mesmo poder que tive de colocá-los lá para tirá-los de lá, então parei de apoiá-los publicamente. Falei: ‘Eu vou continuar agindo como cidadão, mas não me posso expor se não posso consertar o que vejo de errado’. Mas o povo pode, porque se todo o mundo prestar atenção e gritar eles se preocupam um pouquinho.”
O premiado artista afirma que a população precisa ter mais consciência e atitude em relação aos eleitos: “Acho que tem de prestar um pouco mais de atenção, primeiro, antes de votar, quando votar, e depois tem de acompanhar o que aquela pessoa está fazendo”.
Em relação ao atual momento político do Brasil, Antônio Fagundes mostra-se desiludido e não alimenta esperança de mudança efetiva na condução do País.
“Não consigo nem definir o que está acontecendo, é um momento triste porque descobrimos muitas coisas que intuíamos mas não com tantas provas. E a gente não vê uma solução muito próxima.”
Ele criticou diretamente os atuais candidatos ao mais poderoso cargo da República: “A eleição está complicada, você não vê da parte dos candidatos nenhum entendimento do que está acontecendo, eles agem como sempre todos os candidatos agiram e sabemos que não pode ser assim, que tem de haver um discurso novo, uma postura nova, uma cabeça nova, mesmo que seja com velhos candidatos. E a gente sabe que, mesmo que venha essa novidade, não vai ser rápida a solução”.
O ator fez uma comparação da crise política no Brasil com o caos econômico vivido por Portugal há alguns anos.
“Angustia muito, muito, eu amo o Brasil, é um País extraordinário e fico triste. Como fiquei triste com a crise em Portugal, faz uns cinco anos mais ou menos, uma crise violenta. Países com uma beleza, um povo extraordinário, trabalhador, feliz, carinhoso, passando por momentos difíceis por má gestão.”
Antônio Fagundes e os demais atores de ‘Baixa Terapia’ – Alexandra Martins, Bruno Fagundes, Mara Carvalho, Fábio Espósito e Ilana Kaplan – ficam em Portugal até o início de dezembro para cumprir a agenda da temporada.
A estreia em Lisboa será no Teatro Tivoli, no próximo dia 26, com sessões também em 27, 28, 29 e 30.
As demais datas da turnê portuguesa do espetáculo:
1,2 e 3 de novembro no Coliseu do Porto.
8, 9, 10 e 11 de novembro no Teatro Circo, em Braga.
15, 16, 17 e 18 de novembro na Casa das Artes de Farmalicão.
21 e 22 de novembro no Teatro José Lúcio de Leiria.
24 de novembro no Convento de São Francisco, em Coimbra.
28 de novembro no Cine-Teatro Garrett de Póvoa de Varzim.
De 30 de novembro a 2 de dezembro na CAE de Figueira da Foz.