O desfecho de Orgulho e Paixão, a ser exibido nesta segunda-feira (24), resulta em balanço positivo para o trabalho do autor Marcos Bernstein, do diretor Fred Mayrink e suas respectivas equipes.
Foi uma novela das 18h com qualidade dramatúrgica acima da expectativa. Os clichês de folhetim foram tratados com criatividade.
O telespectador acompanhou uma mocinha espirituosa, Elisabeta (Nathália Dill). Ela sofreu muito, mas também foi perspicaz e até aventureira – não é todo dia que se vê uma heroína com figurino de época se equilibrando em cima de um vagão para salvar o trem e os passageiros.
Quem gosta de uma boa vilã divertiu-se com a sempre competente Natália do Valle na pele da perversa e cínica Lady Margareth.
Gabriela Duarte, envelhecida pela caraterização para viver a austera Julieta, oxigenou a carreira com um tipo ainda inédito em sua galeria de personagens.
Enfim, Orgulho e Paixão apresentou um enredo agradável, com atuações vigorosas e momentos de delicioso humor brejeiro.
Muitos deles orquestrados por Ofélia, a matriarca das Benedito. Sua intérprete, Vera Holtz, merece mais papéis cômicos na TV.
Mas a novela ficará marcada pelo passo à frente contra a homofobia. O casal formado pelo mecânico Luccino (Juliano Laham) e o capitão do exército Otávio (Pedro Henrique Müller) roubou a cena, com o perdão do chavão.
Os dois protagonizaram o primeiro beijo gay numa novela das 6 da tarde. Um avanço relevante em tempos de intolerância generalizada no País, especialmente contra a diversidade sexual e as liberdades individuais.
Foi um beijo discreto, à meia-luz, que jogou um clarão sobre o sofrimento vivido diariamente pelos LGBT+. Houve depois um segundo beijo, igualmente poético e, ao mesmo tempo, politizado.
Luccino e Otávio retrataram questões como a eventual dolorosa autodescoberta da homossexualidade, a rejeição em família, o iminente risco de violência homofóbica e, por fim, a força brotada do amor para que se enfrente todos esses obstáculos.
Inserido com destreza no roteiro, o romance gay não gerou protestos raivosos como ocorreu em outras novelas. O público de Orgulho e Paixão acreditou no sentimento verdadeiro que pode unir duas pessoas do mesmo sexo. Desta vez, a ficção fez muito bem à vida real.
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