Formato engessado dos debates não esclarece o telespectador

Autopromoção, trocas de acusações e ironias ocupam o espaço que deveria ser usado para explicar propostas concretas

3 out 2018 - 15h36
(atualizado em 5/10/2018 às 18h57)
Em ordem alfabética, Ciro Gomes, Fernando Haddad, Geraldo Alckmin e Marina Silva: presenças confirmadas no debate da Globo
Em ordem alfabética, Ciro Gomes, Fernando Haddad, Geraldo Alckmin e Marina Silva: presenças confirmadas no debate da Globo
Foto: Reinaldo Marques/TV Globo / Divulgação

Nesta quinta-feira, dia 4, todas as atenções estarão voltadas para o debate na Globo. Será o último confronto entre presidenciáveis antes do primeiro turno.

De acordo com os institutos de pesquisas, milhões de brasileiros ainda não definiram em quem vão votar. O debate derradeiro pode atrair muitos votos – e também afugentá-los.

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Por isso, a maioria dos partidos e coligações considera o encontro de candidatos na emissora líder em audiência do País como o mais importante evento televisivo da campanha.

Marqueteiros traçam estratégicas e treinam os presidenciáveis a fim de conseguir uma performance que impressione positivamente o telespectador-eleitor.

Mas quem espera um conteúdo relevante certamente vai se decepcionar. O que se viu até aqui, em todos os debates, foi um excesso de blábláblá.

O que sempre acontece, aliás, eleição após eleição: discursos decorados para se autopromover, acusações velhas contra adversários, provocações sarcásticas e algumas gafes. 

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Ficam em segundo plano as propostas efetivas para resolver a crise econômica, o desemprego, o caos na segurança pública, o retrocesso na educação e os muitos outros problemas do Brasil.

O formato engessado dos debates não permite uma discussão detalhada do que pretendem os candidatos. Como explicar um plano de governo em respostas de 1 minuto e meio?

A participação dos chamados ‘candidatos nanicos’, sem nenhuma chance de passar ao segundo turno, em nada acrescenta: serve apenas para alongar a duração dos encontros, cada vez mais monótonos e cansativos.

O jornalista Fernando Gabeira já foi político e participou de debates na TV. Ele tem uma visão precisa do que acontece diante das câmeras.

“É uma linguagem egocêntrica. Eu falo o que eu quero, e você fala o que quer”, explicou, ao participar do programa Central das Eleições da GloboNews.

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O que se vê, realmente, é muito show individual e pouca política abrangente. Atuações teatrais nada convincentes e muita enrolação ao responder perguntas às vezes genéricas e repetitivas.

Existe até ‘tabelinha’ entre candidatos: um faz escada ao outro, numa espécie de pacto de não-agressão. Alguns vão além: se sentem autorizados a desviar de questões polêmicas e deixar o oponente no vácuo.

Os mediadores desempenham papel meramente burocrático na condução do formato. Falta contundência jornalística.

Como as regras precisam ser aprovadas pela assessoria de todos os participantes, dificilmente algo vai mudar. É conveniente ter um debate morno, sem maior pressão sobre os candidatos.

Quem mais perde é o público. A televisão, ainda tão influente, deveria ser melhor usada para esclarecer a população.

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