O espaço cedido aos presidenciáveis na televisão deveria servir para a apresentação de propostas viáveis para solucionar os maiores problemas do Brasil.
Poderia, ainda, reavivar a memória do telespectador a respeito dos feitos realizados em prol do povo por aqueles que imploram voto para conquistar o cargo mais importante do País.
Doce ilusão. Ou melhor, amarga.
O que se vê nos programas e nas inserções curtas ao longo do dia neste 2º turno é um festival de ataques contra a biografia e a honra. Os marqueteiros de Lula e Bolsonaro usam a TV para apelar, mexericar, difamar.
Um golpe bem abaixo na cintura, não apenas entre os candidatos, mas também no público que ainda tem paciência e interesse em prestar atenção no blablablá dos dois políticos.
A falta de qualidade do conteúdo exibido fez a gente regredir mais de três décadas, até a campanha presidencial de 1989, quando Fernando Collor recorreu ao mesmo método para desconstruir a imagem de Lula. Funcionou.
Vítima no passado, o petista repete a estratégia com Bolsonaro, que devolve na mesma moeda. Projetos concretos para socorrer os brasileiros e pavimentar o futuro? Esqueça.
Ao longo do horário eleitoral do 1º turno, a televisão frustrou ao não exercer a influência que se previa. Cristalizadas, as intenções de voto foram pouco afetadas pela propaganda.
Já neste 2º turno, as campanhas veem na velha TV – que em setembro completou 72 anos no Brasil – a principal plataforma para tentar convencer indecisos, baixar o índice de abstenção e até conseguir virar votos.
Em entrevista ao projeto ‘Especial Focas’ do Estadão, o professor de Ciência Política Claudio Couto, da FGV-SP, disse qual seria o formato mais adequado para o uso da televisão na campanha eleitoral.
“Deveria ser algo muito simples: um candidato e uma bancada. Ou, no máximo, o político acompanhado de outra pessoa. Colocar o próprio político apresentando sua proposta abertamente e eliminar todos esses efeitos, inclusive o uso de terceiros falando do candidato sem que ele apareça. Se a gente tem isso, efetivamente barateia e torna a campanha mais informativa. Mais politizada, inclusive.”
Do horário eleitoral que mais parece um programa policialesco misturado com uma atração de fofocas, o único saldo positivo será o fortalecimento do mais popular veículo de comunicação de massa, presente em 98% dos domicílios.
Nesta eleição, as campanhas erram com o mau uso da tela, mas, indiretamente, ajudam a ressaltar sua relevância. Políticos passarão, a telinha permanecerá.