Gkay não foi indicada em nenhuma categoria do ‘Melhores do Ano’ do ‘Domingão com Huck’. Sequer recebeu convite para a premiação.
Mas se tornou a personalidade mais associada à última edição do evento, em dezembro, ofuscando os vencedores do troféu.
Alvo de piadas depreciativas de Fábio Porchat e Paulo Vieira, a influenciadora reagiu mal, se colocou como vítima e acabou disparando uma onda de críticas a seu comportamento atrás das câmeras.
Chamada de arrogante e esnobe, ela submergiu. Parou de postar nas redes sociais e teria até deixado de acessar a internet para não se contagiar da hostilidade.
O episódio de ridicularização de Gkay aconteceu após ela avançar na transição da internet para a televisão. Ao longo de 2022, participou de vários programas da TV aberta e de canais pagos, e manifestou o objetivo de conquistar espaço próprio como atriz ou apresentadora.
Seria apenas coincidência a reação negativa a outros influenciadores que ousaram invadir o território de atores e humoristas na Globo?
Em 2016, o youtuber Christian Figueiredo foi bastante criticado quando estreou o quadro ‘Me Conta Lá no Quarto’ no ‘Fantástico’, criado para retratar os adolescentes e tentar aumentar a audiência entre esse público desinteressado por televisão. Não passou da primeira temporada.
Dois anos depois, Kéfera Buchmann surgiu em papel importante na novela das 18h ‘Espelho da Vida’. Apesar de ter o registro de atriz profissional (DRT) e experiência em atuação, a influenciadora virou alvo do veneno de anônimos e famosos incomodados com sua presença na teledramaturgia. Ela chegou a ser ironizada pelo fracasso da trama no Ibope. Desde então, não fez outro folhetim.
Nos últimos dias, repercutiu a notícia de que o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Rio de Janeiro (Sated-RJ) não pretende conceder autorização para que Rafa Kalimann atue como atriz na próxima novela das 19h, ‘Vai na Fé’. A influencer – vítima do velho estigma por ser ex-BBB – já havia recebido uma permissão provisória para fazer o seriado ‘Rensga Hits!’.
Nos quatro casos citados nota-se um incômodo dos mais puristas da classe artística com a chegada à televisão de celebridades nascidas na internet, como se fossem usurpadores de um espaço sagrado digno apenas de atores, humoristas e apresentadores com formação clássica.
Durante algum tempo, as emissoras de TV desprezaram os famosos das plataformas digitais. Com o crescente poder de influência dessa turma, a direção dos canais se convenceu de que era inútil ignorá-los. Mais do que isso: precisava dessas personalidades populares na web para acelerar a convergência entre os dois mundos da comunicação.
Na Globo, influenciadores passaram a aparecer como convidados em programas prestigiados (‘Altas Horas’ e ‘Encontro’, por exemplo), fazer participação rápida em novelas e até ser entrevistados em matérias do jornalismo.
Os influenciadores são os novos reis da mídia, ocupando o pedestal antes exclusivo dos atores de novelas. Sob pressão para se reinventar, a televisão precisa absorvê-los da melhor maneira para aproveitar sua capacidade de engajamento on-line.
O protagonismo que Fábio Porchat e Paulo Vieira deram a Gkay ao esculhambá-la no ‘Melhores do Ano’ reforça a insegurança de muitos artistas tradicionais em relação à ininterrupta ascensão dos famosos da internet na televisão. Tentar uma reserva de mercado será inútil. Trata-se de um movimento sem volta.
