Globo aplica ordem do falecido Roberto Marinho ao demitir talentos com alto salário

Canal dispensa parte relevante de seu elenco a fim de reverter uma crise nas contas

23 mar 2023 - 10h43

A demissão de Cleber Machado, após 35 anos de casa, não foi exatamente uma surpresa. Ele era mantido de escanteio. Havia perdido para Luís Roberto o status de locutor esportivo número 2, atrás somente de Galvão Bueno.

O rumor de que o jornalista seria dispensado surgiu no ano passado, quando foi excluído da equipe enviada ao Catar para transmitir a Copa do Mundo. Tal desprestígio foi interpretado como um possível aviso prévio.

Publicidade

Ele já havia sido afetado por um corte no salário e aparecia bem menos no vídeo do que anos atrás, quando era mais popular por suas tiradas de humor e eventuais gafes.

A saída de nome tão tradicional do jornalismo esportivo da Globo está em consonância com uma filosofia do fundador do canal, Roberto Marinho (1904-2003). “Ninguém é insubstituível”, repetia o magnata da comunicação.

A emissora líder no Ibope manteve um elenco inchado de artistas e jornalistas ao longo de décadas. Fazia questão de pagar pelos melhores das duas áreas, mesmo sem espaço adequado a todos na programação. Queria também impedir que tais talentos fossem para a concorrência.

A realidade se impôs. Lucrando cada vez menos, a Globo passou a abrir mão dos chamados ‘medalhões’ com salários altos. Dispensou Xuxa, Jô Soares, Fausto Silva, Zeca Camargo, Angélica e outros profissionais com imagem profundamente associada ao canal. Até então, a demissão deles era inimaginável.

Publicidade

Repórteres veteranos que com contracheque maior em razão do tempo de casa (alguns com mais de 30 anos no canal) foram demitidos também, inclusive do esporte. A lista inclui Neide Duarte, uma referência de jornalismo de qualidade na televisão.

Mais do que a compreensível e necessária renovação do elenco, busca-se enxugar as despesas fixas para fazer a TV do clã Marinho voltar ao azul após o prejuízo de R$ 173 milhões em 2021.

Vista por muito tempo como uma ‘mãe’ em função de sua relação afetiva com os contratados, a Globo agora se comporta como uma empresa comum do impessoal universo corporativo, onde os funcionários – inclusive suas estrelas – são interpretados como números.

Quem der lucro, fica. Aqueles com salário desproporcional ao rendimento poderão receber uma chamada do RH.

Cleber Machado, com 35 anos de Globo, e Jota Júnior, com 24 anos no canal, estão entre os demitidos recentemente
Cleber Machado, com 35 anos de Globo, e Jota Júnior, com 24 anos no canal, estão entre os demitidos recentemente
Foto: Fotomontagem: Blog Sala de TV
Blog Sala de TV - Todo o conteúdo (textos, ilustrações, áudios, fotos, gráficos, arquivos etc.) deste blog é de responsabilidade do blogueiro que o assina. A responsabilidade por todos os conteúdos aqui publicados, bem como pela obtenção de todas as autorizações e licenças necessárias, é exclusiva do blogueiro. Qualquer dúvida ou reclamação, favor contatá-lo diretamente no e-mail beniciojeff@gmail.com.
Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se