Após anos de tensão, Lula está ‘in love’ com a Globo. Ou seria a emissora que se deixou seduzir pelo novo presidente?
O jornalista mais poderoso da TV, William Bonner, comandou a cobertura da posse com indisfarçável entusiasmo.
Já havia se manifestado simpático ao petista quando conduziu a transmissão após o resultado do 2º turno, na noite de 30 de outubro.
Nos dois eventos, o âncora parecia aliviado com a ascensão de Lula. Afinal, ele foi alvo de ataques violentos de Jair Bolsonaro e seus apoiadores nos últimos quatro anos.
Ao vivo ao longo de várias horas no domingo (1º), Bonner evitou até citar o nome do ex-presidente autoexilado em Orlando, na Flórida.
Lula, por sua vez, demonstra ter perdoado a Globo. Chegou a elogiar o apresentador do ‘Jornal Nacional’ algumas vezes nos últimos meses.
Nem parece o mesmo político que espumava fúria contra o jornalismo do canal quando o acusava de perseguição na cobertura do julgamento da Lava Jato.
Repórteres e comentaristas da Globo e GloboNews têm acesso privilegiado a nomes do 1 escalão do novo governo. O clima é de paz e amor.
Alguns aliados famosos de Bolsonaro na grande mídia demonstram ter interesse de se aproximar de Lula.
Sob as ordens do patrão, o SBT fez uma longa cobertura do ritual da posse em Brasília. Silvio Santos possui histórico de se adaptar ao presidente do momento.
Desde que conquistou a concessão de TV em São Paulo no governo militar do general João Figueiredo, em 1981, ele se empenha em ter boas relações com o poder federal.
Durante os primeiros 8 anos de Lula na Presidência, entre 2003 e 2010, o conservador Silvio Santos foi gentil com o esquerdista. Chegou a fazer uma visita de cortesia a ele no Palácio do Planalto.
Menos diplomáticas, a Record TV e a RedeTV!, ferrenhas defensoras do bolsonarismo, agora estão na berlinda.
Há dúvida se vão manter a linha editorial crítica a Lula e à esquerda ou baixarão o tom em nome da boa convivência — e, obviamente, pelo interesse na bilionária verba de propaganda do governo.
Ambas fizeram uma cobertura mais curta da posse presidencial.
Ex-apoiador de Lula, o bispo Edir Macedo, dono da Record, disse que o petista venceu a eleição “supostamente por vontade de Deus” e orientou seus fiéis a perdoá-lo por pautas ofensivas aos evangélicos.
Sócio-fundador e vice-presidente da RedeTV!, emissora que atravessa a pior fase de audiência desde a inauguração, em 1999, Marcelo de Carvalho se mostra mais resiste a se aproximar do novo presidente. No Twitter, ele continua a discutir com eleitores do petista.
Dona da Band, a família Saad sempre foi discreta na relação com o Palácio do Planalto. O presidente da emissora, Johnny Saad, é amigo pessoal de alguns políticos, mas não gosta de se expor. Os telejornais do canal do Morumbi criticaram duramente Bolsonaro e seu governo.
Nos dois mandatos anteriores, Lula foi generoso com os beneficiários de concessões: direcionou impressionantes R$ 8 bilhões em publicidade oficial às cinco maiores redes de TV do País.
Com Bolsonaro, as receitas dos grandes canais com anúncios da Presidência e das estatais despencou. Ele preferiu ter uma relação distante com a televisão e os donos dos principais canais.