Qual o programa mais antigo da Globo? Errou quem pensou ‘Jornal Nacional’. O ‘Santa Missa em seu Lar’ estreou em 4 de fevereiro de 1968, 1 ano e 7 meses antes da criação do principal telejornal da emissora.
São 55 anos de parceria entre a Igreja Católica e o canal da família Marinho. Hoje, a atração se chama apenas ‘Santa Missa’ e é comandada todo domingo às 6h pelo padre Marcelo Rossi.
A Globo sempre manteve boa relação com a cúpula do Catolicismo. O mesmo não ocorre com as principais lideranças evangélicas. A maioria execra a TV líder no Ibope por enxergar um projeto ideológico progressista contrário ao que pregam a seus fiéis.
Há um atrito maior com o bispo Edir Macedo, fundador e chefe da Igreja Universal e também dono da Record, maior concorrente do canal carioca. No auge do conflito, houve trocas de acusações de supostos crimes nos telejornais das duas emissoras.
A Globo tenta superar as diferenças a fim de atrair os evangélicos. Projeções indicam que eles vão ultrapassar o número de católicos no Brasil em 2032. Essa mudança pode afetar diretamente a televisão.
Nos últimos tempos, o canal carioca fez alguns acenos tentando ser simpático, como ter uma protagonista evangélica na novela ‘Vai na Fé’ (a questão religiosa desapareceu no meio da trama), dar espaço a cantores gospels (como Régis Danese no último ‘Domingão com Huck’) e criar a categoria ‘Música Cristã’ no Prêmio Multishow.
Não será fácil ter a audiência dos crentes. Parte das igrejas proíbe ter aparelho de TV em casa. Quem está autorizado deve sintonizar somente emissoras e programas religiosos.
Para complicar, numerosa parcela dos discípulos demoniza a grade da Globo por considerá-la imoral e desviante da “salvação em Cristo”, além de reclamar que a TV já foi desrespeitosa com o grupo.
“Quando é que a Globo não debochou, não ridicularizou, não fez alguma coisa de forma a denegrir (sic) a imagem dos evangélicos?”, afirmou à ‘Veja’ o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.
No espectro ideológico, a emissora está cada dia mais progressista, especialmente pela postura a favor dos LGBT+ (o casal gay Ramiro e Kelvin é o mais popular de ‘Terra e Paixão’; transexuais se tornaram comuns nas tramas) e da autonomia da mulher em relação a seu próprio corpo, como exibido na série sobre prazer sexual no ‘Fantástico’.
No momento, o Brasil tem 70 milhões de evangélicos, quase 30% da população. Cedo ou tarde, o mercado publicitário e seus anunciantes com verbas milionárias vão querer falar diretamente com esse perfil de consumidor conservador. Nenhum canal de TV poderá ignorá-lo. Terá de ajoelhar e orar.