A diferença na relação da Globo com Jair Bolsonaro e agora com Lula pode ser interpretada pela vinheta de abertura do ‘Bom Dia Brasil’.
Em quatro anos no poder, o presidente de direita nunca apareceu nas imagens que interagem com a logomarca do telejornal.
De janeiro de 2019, quando ele assumiu o mandato, até o momento, o ‘BDB’ teve 11 versões da vinheta exibida logo após a escalada, quando os apresentadores anunciam as principais manchetes da edição.
Nos últimos dois meses, Lula ganhou destaque três vezes. Na vinheta lançada em novembro, o petista surgiu em imagem gravada na noite do 2° turno, comemorando a vitória nas urnas.
Na versão inaugurada no início de janeiro, o presidente é mostrado subindo a rampa do Palácio do Planalto ao lado de representantes da sociedade civil no dia da posse.
Há uma segunda imagem, com Lula enviando um beijo para a multidão que acompanhou a cerimônia na Praça dos Três Poderes e redondezas.
A seleção para a vinheta do ‘Bom Dia Brasil’ privilegia personagens importantes do Brasil e no exterior, além de momentos históricos.
Nos últimos anos, apareceram o presidente dos EUA, Joe Biden, os ex-jogadores Maradona e Pelé em homenagem póstuma e Irma Dulce da Bahia por conta da canonização.
A lista de notáveis homenageados inclui também a rainha Elizabeth, o rei Charles III, o ex-presidente da União Soviética Mikhail Gorbatchov e jogadores da Seleção Brasileira.
Entre os grupos relevantes para o jornalismo, os invasores do Capitólio em Washington e os líderes do Talibã na tomada do palácio presidencial do Afeganistão.
A vinheta do principal telejornal da manhã na Globo já exibiu também os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Humberto Costa (PT) no plenário da CPI da Covid.
Assim que foi eleito, Bolsonaro iniciou uma cruzada pessoal contra a principal emissora da família Marinho. Além de críticas e deboches, ameaçou várias vezes não renovar a concessão da TV.
No auge dos ataques, xingou a Globo de “imprensa porca”, “jornalismo podre”, “nojenta” e “imoral”. Disse que o âncora do ‘Jornal Nacional’, William Bonner, era “canalha” e “sem-vergonha”.
Às vésperas do fim do mandato, Bolsonaro decepcionou seus apoiadores ao assinar o decreto concedendo autorização para o canal líder no Ibope transmitir por mais 15 anos.
Nos primeiros 8 anos de Lula na Presidência, entre 2003 e 2010, a relação do petista com a Globo foi amistosa.
O conflito começou a partir dos protestos de rua de 2013, com Dilma Rousseff no poder, e se intensificou com a cobertura do Petrolão, da Operação Lava Jato e do impeachment.
O ícone da esquerda acusou o canal do clã Marinho de responsabilidade em sua condenação na mídia: “A Globo, é, na verdade, a grande mentora dessa panaceia toda”, disse em entrevista à TVT em 2019.
Preso em Curitiba na época, então ex-presidente afirmou que a emissora prejudicou seu partido durante a campanha eleitoral de 2018. “O objetivo da Globo, embora não goste do Bolsonaro, era não ter o PT”.
A relação mudou radicalmente a partir da sabatina de presidenciáveis na bancada do ‘JN’, em agosto de 2022, quando Bonner disse o que Lula sempre quis ouvir da boca dele. “O senhor não deve nada à Justiça.”
Desde a eleição, em outubro, a maior rede de televisão do País exibiu várias matérias positivas sobre o ex-desafeto.
Lula e sua esposa, a socióloga Janja da Silva, concederam entrevistas exclusivas à GloboNews e ela também apareceu em longa conversa no ‘Fantástico’.