No domingo (3), matéria do repórter Pedro Figueiredo no ‘Fantástico’ apresentou novas denúncias de assédio e estupro contra o vereador do Rio, youtuber e ex-policial Gabriel Monteiro.
Uma imagem de apenas 4 segundos na reportagem de 15 minutos chamou a atenção: uma foto do denunciado usando uma camiseta com uma imagem de Jair Bolsonaro.
O presidente não foi citado, obviamente, mas houve inegável associação entre o comportamento supostamente abusivo do denunciado e o líder de sua ideologia.
O que seria apenas um detalhe de edição ganha conotação política e eleitoral em um ano de ida às urnas – e reforça a discussão a respeito de imparcialidade jornalística.
A radicalização divide o Brasil e tenta contaminar o trabalho da imprensa. Há uma tendência a dividir as emissoras entre esquerda e direita, aliadas e inimigas, a partir da visão e militância de quem faz a análise.
Fica o questionamento: o ‘Fantástico’ destacou que Gabriel Monteiro é bolsonarista por considerar a informação relevante, usou a imagem sem avaliar o impacto ou foi uma deliberada provocação ao presidente e seus aliados pelo discurso de moralidade?
Se o polêmico personagem da matéria vestisse uma camiseta com o rosto de Lula, Ciro, Moro, Doria ou qualquer outro pré-candidato, suscitaria a mesma dúvida.
Neste inflamável 2022, o jornalismo profissional deve tomar cuidado para não cair em armadilhas nem se deixar contaminar pela polarização tóxica. Mensagens implícitas podem tirar o foco do que interessa, a notícia.