Globo relança novela sobre povo que se rebela e toma o poder

Inigualável, ‘Que Rei Sou Eu?’ critica a corrupção, a mamata de quem governa e o conformismo do brasileiro

14 mar 2022 - 13h45
Pichot (Tato Gabus Mendes) é o mendigo transformado em rei
Pichot (Tato Gabus Mendes) é o mendigo transformado em rei
Foto: Acervo/TV Globo

O reino de Avilan de 1786 era muito parecido com o Brasil de 1989, ano de estreia de ‘Que Rei Sou Eu?’, novela da faixa das 19h da Globo que entrou no catálogo do Globoplay nesta segunda-feira (14).

A monarquia europeia fictícia espelhava o País sul-americano abatido pela hiperinflação e os escândalos de corrupção no governo do presidente José Sarney.

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Havia o nepotismo de quem mamava nas tetas do Estado e a incerteza sobre o futuro às vésperas da primeira eleição direta após a redemocratização.

Não é exagero afirmar que também existem várias semelhanças daquela Avilan de folhetim com o Brasil de 2022: a inflação voltou a subir e preocupar e ainda existe o generoso cabide de empregos a parentes e amigos dos poderosos.

Verbas milionárias da arrecadação de impostos são rachadas com aliados do Poder Executivo enquanto boa parte da população carece do básico para viver com dignidade.

E, assim como 33 anos atrás, o brasileiro se vê diante de uma eleição presidencial ímpar, capaz de mudar o rumo de sua história. No passado, Lula x Collor. Agora, possivelmente, Bolsonaro x Lula.

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Comédia com jeito de ópera bufa e forte crítica social, ‘Que Rei Sou Eu?’ é uma das melhores novelas de todos os tempos. A inspiração óbvia do genial autor Cassiano Gabus Mendes (1927-1993) foi a Revolução Francesa.

Cenários e figurinos lembram a corte de Versalhes. O povo oprimido e, depois, insurgente, remete aos franceses que enviaram o rei Luís XVI e sua rainha consorte Maria Antonieta à guilhotina.

O elenco da novela deu show de interpretação
Foto: Acervo/TV Globo

Entre os personagens, destaque para o herói Jean-Pierre (Edson Celulari), defensor dos pobres e líder da revolução contra a nobreza exploradora. Sua voz se ergue contra a passividade do brasileiro acomodado que não participa da luta por direitos sociais.

Tereza Rachel eternizou a rainha Valentina, um poço de futilidade. São inesquecíveis seus gritos agudos, a gargalhada histérica e o humor ácido. Ela se divertia com seu amante, o bobo da corte Corcoran (Stênio Garcia). A atriz morreu em 2016.

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Entre os vários vilões da trama, o bruxo Ravengar – uma versão de Rasputin, o místico ambicioso que colaborou com o colapso do império russo – suscita medo. Atuação inspirada de Antônio Abujamra, falecido há 7 anos.

O folhetim de capa e espada teve algumas participações especiais. Dercy Gonçalves (1907-2008) apresentou um de seus mais divertidos desempenhos na pele da desbocada e luxuriosa baronesa Eknésia, mãe da rainha.

‘Que Rei Sou Eu?’ foi beneficiada pelo tempo. Continua atual e relevante. Um sopro de originalidade. Nada parecido foi feito depois. Repetitiva, a teledramaturgia atual da Globo deveria ousar, assim como fez o autor desse clássico, para enfrentar a interessante ficção produzida por canais pagos e plataformas de streaming rivais.

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