Não chega a causar surpresa o cancelamento da exibição na próxima quinta-feira (30) de episódio da série sobre a relação dos LGBTs com a cidade de São Paulo no telejornal ‘SP1’, com o repórter declaradamente gay Rômulo D’Ávila.
O canal alega ter sido uma decisão editorial. E podemos acreditar. O problema está na motivação. O material pró-diversidade sexual e de gênero iria ao ar no Feriado de Corpus Christi, um dos principais da Igreja Católica, e da Marcha para Jesus de SP, maior manifestação de rua dos evangélicos.
Na prática, a Globo demonstra não querer ofender ou provocar as duas maiores correntes religiosas do país. Tal atitude mostra olhar equivocado da emissora sobre a comunidade do arco-íris – tratada, neste caso, como ultrajante aos praticantes da fé – e explícita incoerência com a própria programação.
Por acaso, nos dias de protagonismo dos católicos e evangélicos, a emissora vai proibir também a aparição dos personagens LGBTs nas novelas, como a Buba de ‘Renascer’ e o Kleberson de ‘Família é Tudo’?
Esconderá os jornalistas ativistas da causa anti-homotransfobia, como Marcelo Cosme do ‘Em Pauta’ e ‘Jornal Hoje’? Irá proibir entrevistados afeminados nos telejornais? Drags como Pabllo Vittar estarão proibidas de aparecer nos programas? Será um dia sem gays, lésbicas, trans e afins em sua tela?
Essa atitude hipócrita da Globo serve apenas para manchar sua imagem e enfraquecer a imparcialidade de seu jornalismo. O apagamento de um grupo para agradar a outros, ainda que apenas por 1 dia, revela falta de isenção e visão moralista de mundo.
Com DNA católico de fundação e tentando flertar com evangélicos por interesse de audiência, o canal indica disposição de acender quantas velas for necessário para diminuir sua rejeição nas igrejas mais poderosas.
Logo depois, em 2 de junho, voltará a ser progressista de carteirinha ao cobrir a Parada Gay de SP. Afinal, os “desviados de Deus” são fundamentais para seu engajamento on-line e a política de inclusão exigida pelos grandes anunciantes dos intervalos da TV.