“Lá vem a militância novamente”, pensarão alguns leitores. Ou melhor, muitos. Não se trata de ativismo, e sim de estatística e realidade. Vamos aos números e fatos.
De acordo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), de 2019, a população do Brasil possui 56,2% de pretos e pardos. Essa proporção não é vista na teledramaturgia.
As produções têm elenco predominantemente branco. Um dado confirma tal discrepância: a Globo terá agora apenas seu 2º casal negro protagonista de novela nos 57 anos da emissora.
Na nova novela das 19h, ‘Cara e Coragem’, criada por Claudia Souto, Taís Araújo será Clarice e sua sósia, Anita. Terá como par romântico Paulo Lessa no papel do segurança Ítalo.
Antes deles, na trama ganhadora do Emmy Internacional ‘Lado a Lado’ (2012/2013), de João Ximenes Braga e Claudia Lage, Lázaro Ramos (Zé Maria) e Camila Pitanga (Isabel) representaram a negritude como protagonistas.
Casados na vida real, Taís Araújo e Lázaro Ramos formaram casal em ‘Cobras & Lagartos’ (2006/2007), mas Foguinho e Ellen não eram a principal história romântica da novela.
Os dois também estrelaram ‘Mister Brau’ (2015 a 2018), porém, não entram na conta porque foi uma série, não uma novela.
Em ‘Cara e Coragem’, além do casal negro haverá um casal branco também protagonista: Pat (Paolla Oliveira) e Moa (Marcelo Serrado).
Houve um outro caso de novela com casal negro em papéis principais, mas se trata de uma vergonha na história da Globo por ser um caso explícito de desrespeito aos descendentes de africanos.
No ar entre 1969 e 1970, ‘A Cabana do Pai Tomás’ tinha Ruth de Souza – precursora e grande influência dos artistas negros – como a escrava Cloé. Para interpretar seu marido, o canal escalou o maior galã da época, Sérgio Cardoso.
O ator branco pintava o rosto, o pescoço e as mãos com carvão de cortiça. Alargava as narinas com pedaços de rolha. A peruca tinha pedaços de palha de aço tingidos de preto.
Adaptada de um romance norte-americano, ‘A Cabana do Pai Tomás’ é considerada uma obra de TV racista por conta do blackface, a execrável antiga prática teatral de atores brancos se caracterizarem de maneira caricata para representar os negros com deboche e desdém.