Apesar das dezenas de demissões de jornalistas veteranos nos últimos 3 anos, causou surpresa a notícia da saída de Valmir Salaro da Globo.
Ele deixará o canal em dezembro após 31 anos na empresa. O desligamento foi decidido “em comum acordo”, segundo nota da TV.
Trata-se do mais experiente repórter investigativo da emissora, com fontes quentes nas mais altas esferas das polícias, o que rendeu sempre informações exclusivas para matérias de impacto.
No fim de 2022, Salaro gerou manchetes ao enfrentar sem rodeios o maior erro de sua carreira – e um dos piores do jornalismo brasileiro: a cobertura sensacionalista do caso Escola Base.
Em série documental do Globoplay, o repórter ficou frente a frente com pessoas prejudicadas emocional e financeiramente por suas matérias equivocadas e comentou o peso da culpa.
Abrir mão de Valmir, a Globo aprofunda a crise de talentos consolidados de seu jornalismo. A maioria dos apresentadores e repórteres com mais de 50 anos foi dispensada. Teoricamente, por questão financeira em razão dos salários altos.
As dificuldades impostas pela pandemia ao mercado publicitário e o aumento dos custos de operações geraram prejuízo ao Grupo Globo. Está em curso uma reestruturação interna para fazer a companhia voltar a lucrar.
Pelo que se nota, trocar jornalistas experientes por profissionais jovens ganhando menos foi uma das soluções para reduzir as despesas fixas. Mas o fôlego financeiro cobra um preço.
As reportagens perdem o olhar experiente, a bagagem cultural, a credibilidade e a conexão com o público construída por esses jornalistas calejados ao longo de décadas no vídeo.
Renovações são necessárias em qualquer empresa. As novas gerações de repórteres têm, certamente, muito a contribuir para a comunicação na TV, porém, vão precisar de longo tempo para atingir a maturidade do trabalho dos veteranos demitidos.