Na terça-feira (8), o ‘Em Pauta’ discutiu o racismo estrutural e a “rotina de preconceito” que levou o entregador negro Yago Côrrea de Souza, de 21 anos, a ser preso após sair de uma padaria, no Rio.
Ele foi acusado pela PM de ter associação com o tráfico de drogas. Ficou dois dias em um presídio, onde passou fome, até um juiz reconhecer o erro e mandar soltá-lo.
Os jornalistas do programa criticaram a discriminação racial no Brasil. Lembraram de dois casos recentes em evidência na mídia: o do imigrante congolês Moïse Kabagambe, espancado até a morte em um quiosque, e do repositor Durval Teófilo Filho, morto a tiros por um vizinho que supostamente o confundiu com um ladrão.
O problema é que o ‘Em Pauta’ abordou o assunto pela voz de seis jornalistas brancos: o apresentador Marcelo Cosme e os comentaristas Marcelo Lins, Eliane Cantanhêde, Guga Chacra, Mônica Waldvogel e Ariel Palacios.
Equívoco idêntico aconteceu na edição de 2 de junho de 2020, quando sete jornalistas brancos trataram de preconceito a partir dos protestos antirracistas pela morte do americano George Floyd. “Rapaziada, a pauta é racismo”, anunciou Cosme aos colegas na ocasião.
As críticas nas redes sociais e na imprensa fizeram a GloboNews escalar para o ‘Em Pauta’ do dia seguinte um time de jornalistas negros da casa – Heraldo Pereira, Maju Coutinho, Flavia Oliveira, Zileide Silva, Aline Midlej e Lilian Ribeiro – a fim de se retratar.
Cosme fez o mea-culpa em nome da emissora. “Os jornalistas que dividiram comigo a cobertura ontem, todos experientes e de alto nível profissional, eram todos brancos. Eu estaria mentindo se dissesse que foi um acidente.”
O âncora informou que a Globo tem a “diversidade como valor”. “Mas, por razões históricas e estruturais de nossa sociedade, também aqui na Globo os colegas (negros) ainda não são tantos quanto desejável”. Ele comentou a repercussão ruim na internet. “Nós entendemos o recado.”
Ontem, o recado foi esquecido. Faltou sensibilidade a quem escalou os comentaristas da edição. Bastava um olhar atento às pautas do dia para perceber a necessidade de chamar um jornalista negro da emissora para ter alguém com o ‘lugar de fala’.
Cosme, Lins, Cantanhêde, Chacra, Waldvogel e Palacios já fizeram manifestações importantes contra o racismo, porém, ao exibir, de novo, apenas o olhar de brancos sobre a questão, a GloboNews ressalta o problema histórico que disse estar disposta a corrigir: a presença insuficiente de negros no telejornalismo.
Ressalte-se que o ‘Em Pauta’ tem entre seus comentaristas fixos a jornalista Flavia Oliveira, uma importante ativista do movimento antirracista. Mas é pouco, muito pouco, considerando a proporcionalidade de pretos e pardos que compõem o Brasil e a audiência da TV.