Em suas matérias no ‘Jornal Nacional’, a correspondente em Roma, Ilze Scamparini, invariavelmente surge em um terraço com a cidade ao fundo. A paisagem preferida é a da cúpula da Igreja de Santa Inês, na Praça Navona. A embaixada do Brasil fica ao lado.
O cenário recorrente já gerou muitos posts irônicos nas redes sociais. “Pensando aqui, talvez a Ilze seja o Batman. Aparece do nada, sempre nos telhados”, escreveu um usuário do Twitter.
No domingo (27), ela decidiu “fazer algo diferente”, como diria a diva trans Luisa Marilac. Desceu às ruas da capital italiana para mostrar, no meio do povo, protestos contra a Guerra na Ucrânia.
Foi agradável vê-la fora daquela rigidez estética da ‘passagem’, termo para a parte da reportagem na qual o jornalista aparece falando à câmera.
A presença do correspondente internacional fica mais justificada quando ele destaca o lugar onde vive, interage com a população local, oferece uma visão íntima da realidade ao seu redor.
Com texto elegante, Ilze é uma ótima cronista do cotidiano. Deveria ter mais espaço na Globo para revelar o dia a dia da Itália, País com forte ligação cultural com o Brasil e objeto de interesse de tanta gente por aqui.
Na pandemia de covid-19, a jornalista, de 63 anos, cumpriu um dos isolamentos mais severos. Viveu as limitações do confinamento com o marido, o roteirista Domenico Saverni Mezzatesta.
Entre as entradas ao vivo e gravações de matérias para os telejornais da Globo, ela se dedicou à escrita de seu primeiro livro, ‘Atirem Direto no Meu Coração’ (Editora Harper Collins).
O romance nasceu de uma entrevista com uma jovem combatente sérvia da Guerra do Kosovo. A Yana da vida real inspirou a Yana da ficção. A correspondente planeja novas obras, sobre a Primeira e a Segunda Grandes Guerras, e a respeito dos bastidores do Vaticano.
Nascida em Araras, interior de São Paulo, Ilze está na Globo desde 1984. No exterior, trabalhou em Nova York e Los Angeles antes de se fixar em Roma, em 1999.
Ganhou projeção planetária em 2013, quando perguntou ao papa Francisco sobre o “lobby gay” na Igreja Católica. Nenhum jornalista tinha tido a coragem de tocar no assunto antes dela.
O pontífice condenou a prática e deu uma declaração surpreendente a respeito do acolhimento aos homossexuais. “Se uma pessoa é gay e procura Jesus, e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”