O capítulo de segunda-feira (30) de "Segundo Sol" não passou incólume pelo bom senso. O inverossímil mais uma vez roubou a cena.
Na sequência inicial, Laureta (Adriana Esteves) trocou tiros com policiais. Apesar da distância de menos de dez metros, nenhuma bala atingiu a bandida, que até ficou de costas para os agentes da lei e fugiu linda e loira numa moto pilotada por seu michê particular Tomé (Pablo Morais).
Vamos relevar... É novela.
Com a cafetina em disparada, o aparvalhado Ionan (Armando Babaioff) parou a viatura a fim de perguntar sobre o baleado Du Love (Ciro Sales), dando tempo de a víbora se distanciar.
Vamos relevar... É novela.
Já na rua, o carro da polícia foi vítima de um clichê: o congestionamento permitiu que Laureta e Tomé deixassem a viatura para trás. Em seguida, baixou o espírito da Mulher Gato na vilã: de repente se revelou uma exímia piloto ao assumir o controle da moto e acelerar sozinha.
Vamos relevar... É novela.
Na mansão-bordel, Tomé chegou assustado e, logo depois, entraram os policiais. Apesar de o rapaz ter cometido um crime ao dar fuga à assassina, ele não foi preso. O policial exemplar Ionan simplesmente ignorou a presença do garotão diante de seu nariz.
Vamos relevar... É novela.
Mais tarde, quem surgiu no casarão? Bingo! Laureta, a própria. Cá entre nós, qual fugitivo da polícia voltaria ao local mais visado pela polícia?
Vamos relevar... É novela.
Não, não dá pra relevar tanto assim. Toda novela exige uma dose de complacência do público, porém, desta vez, o autor João Emanuel Carneiro pede uma overdose abusiva. Haja benevolência – e paciência – para ignorar as falhas e soluções fáceis de "Segundo Sol".
O folhetim, que teve ótima premissa, hoje é uma trama que se arrasta com incongruências de roteiro e falta de consistência dramatúrgica.
Por sorte, há excelentes personagens valorizados por atores competentes. São essas atuações vigorosas que salvam "Segundo Sol".