A direção da Globo era quem mais torcia contra a possível candidatura de Luciano Huck à Presidência da República.
Temia-se a contaminação da emissora. Inevitavelmente, o canal seria jogado na fogueira eleitoral.
O presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula já haviam associado a TV da família Marinho ao ambicioso projeto político do apresentador.
“Alguém acha que o povo vai votar no pau mandado da Globo?”, questionou Bolsonaro ao comentar eventual candidatura de Huck.
“A Globo, depois de lançar o Bolsonaro, agora vai lançar o Caldeirão do Huck”, debochou Lula. “O Luciano Huck não representa a centro-esquerda. Ele representa a Central Globo de Televisão.”
Ser acusada de ter um candidato oficial a representar seus interesses era tudo o que a emissora carioca não queria.
Atacada pelas extremidades do espectro político, a empresa quer ser vista como imparcial na corrida presidencial de 2022.
Com a desistência de Huck, que preferiu assumir o lugar de Faustão na programação dos domingos, os poderosos da cúpula global respiram aliviados, mas nem tanto.
À frente nas pesquisas de intenção de votos, Bolsonaro e Lula mantêm a Globo na mira. No ano que vem, o atual presidente terá que decidir sobre a renovação da concessão do canal.
A última autorização para funcionamento foi assinada por Lula, em 2008, durante seu segundo mandato no Planalto.
Na prática, Bolsonaro não pode tirar a TV do ar com uma canetada, porém, tem poder para dificultar o processo de revalidação da concessão.
Da parte de Lula, a Globo deverá sofrer ataques ininterruptos ao longo da campanha por conta de sua cobertura jornalística dos julgamentos do petista na Lava Jato.
Beneficiado pela anulação de condenações e novamente elegível, o ex-presidente tem ‘sangue nos olhos’ por antigas matérias desfavoráveis a ele no Jornal Nacional.
Em razão de seu jornalismo influente, a TV Globo sempre desempenha papel importante nas eleições. Impossível não admitir que influencia o voto de milhões de brasileiros.
Resta saber como vai reagir ao ficar no meio do fogo cruzado entre Bolsonaro e Lula e ser, ela própria, alvo dos dois ao mesmo tempo.