Desde que foi eleito presidente do Sated-RJ (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos), em 2022, Hugo Gross engrossou a fiscalização para que pessoas sem registro profissional não ocupem oportunidades de trabalho de artistas com formação.
Essa defesa da classe produziu alguns embates com a Rede Globo, maior empregadora do audiovisual brasileiro. Em busca de atrair o público da internet, especialmente os jovens desinteressados na TV aberta, o canal começou a escalar influenciadores digitais para sua teledramaturgia.
Nem todos possuem o DRT, documento que separa amadores de profissionais no meio artístico. Nesta entrevista, o ator e líder sindical explica a dinâmica que permite ou não alguém sem registro atuar diante das câmeras e comenta a negativa do Sated-RJ à presença do ex-BBB Gil do Vigor em uma novela.
Como é o procedimento junto ao sindicato quando a Globo quer colocar alguém sem DRT para participar de uma produção de TV?
A emissora ou o grupo de teatro, enfim, o contratante apresenta uma justificativa para contratar aquela pessoa para tal trabalho por tal período. No sindicato, a gente analisa. Não somente eu, tem diretores como o José Cisneros, que está há muito tempo aqui. Aí decidimos se o caso merece ou não a autorização especial, específica. Foi o caso da Jade Picon. A Globo solicitou uma autorização para o produto ‘Travessia’, já que ela não possui o registro profissional de atriz.
O sindicato tem acesso antecipado às escalações de elenco da emissora para fiscalizar se todos têm DRT?
O sindicato não tem acesso, é uma briga que eu tenho com eles. Estamos atentos. Uma equipe assiste a tudo o que é transmitido na Globo, no Globoplay, na Record, no SBT. É muito triste escalarem alguém pelo número de seguidores nas redes sociais. Não há prova de que isso melhore a audiência das novelas. Mas aí, olham um influenciador com 5 milhões de fãs, e acreditam que vai ajudar a aumentar o índice no Ibope ou impulsionar a venda do produto. Só o talento melhora a audiência.
Quais os critérios do sindicato para liberar ou negar uma autorização especial para alguém trabalhar como ator sem DRT?
Vou te dar um exemplo. Eles querem colocar no ar uma mulher afrodescendente, aparentando 22 anos, e pedem autorização porque ela não tem registro. Se dentro do quadro do sindicato existir algum artista com perfil parecido, a gente pode negar a autorização, afinal, já há profissionais com DRT que podem fazer aquele trabalho. Mas procuramos sempre fazer um acordo de cavalheiros, sem conflitos.
Por que houve polêmica com o ex-BBB Gil do Vigor?
Ele chegou a dizer que tinha uma maneira de burlar o sindicato, seria colocando ele como ele mesmo (na novela ‘Família é Tudo’). Mesmo assim, a Globo tem de pedir uma autorização ao sindicato porque existe toda uma produção por trás, uma direção, ele não iria simplesmente chegar e fazer como quisesse. Ele estaria num set de gravação, seria dirigido, teria de respeitar o texto, então a pessoa real se torna uma personagem. Neste caso, a gente não cedeu.
O espaço da coluna está aberto à manifestação de todos os citados.