Drica Moraes é o sinônimo da discrição. Econômica nas palavras, a atriz costuma mostrar seu lado expansivo nas personagens que interpreta. Muitas vezes escalada para tipos cômicos, agora ela encarna uma grande vilã, a Cora de Império. E foi justamente a possibilidade de se distanciar um pouco do que está acostumada a fazer que mais a agradou no trabalho. O que não significa, é claro, que ela não vai flertar com a graça ao longo dos capítulos. "Não acho que seja uma escalação óbvia. Sou muito grata pelo convite do Aguinaldo Silva (autor) e do Rogério Gomes (diretor) para poder viver essa maluca. Acho que o melhor lugar para empenhar o meu humor é nessa mulher", avalia.
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Na história, Cora é uma mulher amargurada, fofoqueira e que não casou. No passado, atrapalhou a fuga que a irmã planejava fazer com o cunhado e amante José Alfredo – vivido por Chay Suede na primeira fase e por Alexandre Nero na segunda. E, sempre que pode, manipula as pessoas para conseguir o que quer. "É uma megera do Aguinaldo Silva, a gente não sabe nunca o que ela vai fazer. Acho que Cora tem o que todos nós temos, que é a luta pela sobrevivência, necessidade de poder, essas coisas todas muito comuns. Mas nela tem uma resultante mais patológica", acredita.
TVPress - As vilãs de Aguinaldo Silva costumam ser perversas, mas possuem um toque de humor, como a Tereza Cristina de Fina Estampa e a Nazaré de Senhora do Destino. Você percebe a mesma coisa em Cora?
Drica Moraes - Acho que o humor está em tudo, eu faço tudo com esse olhar. Inclusive, esse dramalhão que estou fazendo agora como Cora tem muito de humor e muito dessa inteligência e dessa esperteza que o humor carrega. Cora terá humor, mas não será uma megera cômica. Mas talvez sim porque tem muito de circo na dramaturgia do Aguinaldo. A personagem se mete em ciladas, fala alto, xinga. Então, tem um pouco de palhaço também, tem um pouco de tudo. Acho que essas vilãs do Aguinaldo são tão perversas e inesperadas que é gostar ou não gostar. Ou cai no gosto do público ou não cai. Eu espero que caia.
TVPress- Esta não é a primeira vez que você interpreta uma vilã, mas o público se acostumou a vê-la em personagens engraçados. Como foi a preparação para viver Cora?
Drica - Lá atrás, cheguei a fazer uma grande vilã na Manchete, com Walter Avancini, em Xica da Silva, escrita por Walcyr Carrasco. A Violante é o embrião de malucas que eu tenho no meu repertório. Para a Cora, fui em cima dessa confusão de sentimentos dela. Acho que tragédia tem isso. A tragédia clássica é a máscara do riso e do choro. As coisas estão sempre muito juntas dentro da gente e essa mulher tem uma relação de alguma doença afetiva com a irmã. Ela realmente queria ser e ter tudo que a irmã tinha. Eu até revi O que Terá Acontecido a Baby Jane, um filme lindo com Bette Davis e Joan Crawford no elenco. Mas é um pouco dessas coisas todas misturadas.
TVPress - Na primeira fase da novela, Cora é interpretada por Marjorie Estiano. Vocês chegaram a fazer algum trabalho juntas para encontrar o tom da personagem?
Drica - Fizemos uma preparação com Eduardo Milewicz, um coach argentino. A gente fez um trabalho de gestual, de estar em contato e de mimetizar com a outra. Foi bem interessante. Não assisti a nenhuma cena da Marjorie, só tivemos esse processo.
TVPress - Muitos atores declaram a preferência por encarnar vilões. Compartilha da mesma opinião?
Drica - Gosto de um bom personagem. Acredito que tenho um bom papel agora nas mãos. As personagens escritas para serem as vilãs são muito ricas. Elas podem muito, têm um elástico grande de ações e emoções, então é um prazer. Você pode até bancar a heroína sendo a vilã. Você pode bancar a palhaça, a pobre coitada, a vilã da gargalhada, a bruxa... É muito rico, muito libertário.
TVPress - Em quase 30 anos de televisão, consegue eleger algum trabalho que tenha sido marcante?
Drica - Fico muito feliz de ter uma trajetória tão múltipla, tão variada. Acho que isso para o ator é ótimo, você não ter estereótipos, poder fazer coisas tão diversas. Acabei de fazer um trabalho que gosto muito, Doce de Mãe. Eu era a heroína romântica do personagem do Marco Ricca. Foi um trabalho muito burilado, que eu adoro.
Império – Globo – De segunda a sábado, às 21h20.