Ivan Moré se tornou um dos apresentadores mais carismáticos da TV brasileira. Aplica a dose certa de bom humor no noticiário esportivo.
Há quase duas décadas na Globo, o jornalista de 41 anos encara agora um novo desafio: enfrentar plateias interessadas em vê-lo dissertar sobre suas experiências de vida e os conhecimentos profissionais.
Em entrevista ao blog, Moré comenta também o trabalho em emissoras do interior e as melhores lembranças de Copas do Mundo.
Consolidado como apresentador, você sente saudade da época de repórter, quando fazia externa cada dia num lugar diferente?
Sinto e muito! Mas sempre que há uma oportunidade vou pra a rua fazer algumas reportagens especiais. O quadro Carona do GE (no qual o jornalista acompanha um esportista em seu carro) é uma marca registrada do programa desde 2009 e ainda hoje faz sucesso. Nesse segundo semestre, bons personagens pintarão por aí... Também levamos ao ar uma série todo final de ano com super atletas. É o quadro ‘Os Foras de Série’. Não só faço a produção, como também pratico a modalidade do atleta entrevistado. O ginasta Arthur Zanetti, o nadador Cesar Cielo, o Serginho do Vôlei e várias outras personalidades do esporte já participaram.
Até chegar ao comando do Globo Esporte, você trabalhou em várias afiliadas da Globo. Como foi essa experiência em emissoras menores?
Trabalhei em três afiliadas: Paranavaí (no Paraná), Jundiaí e Sorocaba (ambas no interior paulista). Essa experiência foi fundamental na minha formação. Me ajudou a entender o jornalismo de maneira mais ampla. Tive a chance de aprender a atuar em todos os setores. Fiz matérias de economia, saúde, política, entretenimento e reportagens factuais, além de séries especiais. Ganhei um Prêmio de Melhor Reportagem e fui conhecer os canais de TV e rádio Deutsche Welle, na Alemanha. O aprendizado no interior foi um grande alicerce no início da minha carreira.
Durante o Mundial da Rússia, você comandou o SporTV News Copa. Quais suas lembranças mais antigas em relação à Copa do Mundo?
O pênalti perdido por Zico contra a França na Copa de 86. Os cabelos brancos não escondem minha idade (risos). E claro, as boas recordações da dupla de ataque Romário e Bebeto na copa de 94, com o histórico grito do Galvão Bueno: “É tetraaaa! É tetraaaaaa!”
Muitos apresentadores, como Tiago Leifert e Fátima Bernardes, fizeram a transição do jornalismo para o entretenimento. Você se vê em movimento semelhante no futuro?
O simples fato de comandar o Globo Esporte em SP, maior e mais importante praça da TV Globo no Brasil, já é um desafio diário. Tenho que me desdobrar para todos os dias inovar e entregar algo muito bem-feito para um telespectador exigente. Precisamos entender e cativar esse público que tem cada vez mais acesso ao mundo digital. Creio que novos desafios podem surgir a qualquer momento. Gosto muito da casa, sou praticamente um filho da TV Globo. Ano que vem completo 20 anos na emissora. Todo e qualquer desafio que pintar, seja qual for a área, será encarado da mesma forma. Farei com a maior entrega e energia possíveis.
Como é sua relação com os esportes fora da TV? Revela para qual time torce?
Infelizmente por conta da barbárie de alguns seguimentos de torcidas organizadas não posso revelar meu time de coração. Mas adoro trabalhar com futebol. Me aposentei dos gramados faz mais de 10 anos. Virei um apaixonado por natação, e por 7 anos treinei 3 vezes por semana. Chegava a nadar mais de 10 mil metros semanalmente. Cansei um pouco desse esporte, dei uma pausa. Também joguei tênis por um bom tempo, mas depois de uma cirurgia no punho, também dei um tempo. Hoje minha nova paixão é o futevôlei. Dou os primeiros passos nessa nova modalidade que é muito difícil, mas também divertidíssima.
Como surgiu a vontade de atuar como palestrante?
É um trabalho que ainda está no início. Acabei de formatar minha palestra. E a ideia surgiu por conta de uma demanda de mercado. Muita gente perguntava se eu não tinha uma palestra para apresentar. Passei um tempo com isso na cabeça, esperando algo amadurecer dentro de mim. Enfim apareceu o momento certo. Não queria fazer uma palestra apenas para atender ao mundo comercial, mas sim elaborar algo que estivesse relacionado com minha história, com o Ivan que poucos conhecem. Procurei fugir dos formatos já existentes. Preferi me basear na maneira como lido com meus desafios profissionais e o jeito como construí minha carreira. Foi aí que surgiu a palestra Desobediência Produtiva. É voltada para empresas, equipes de vendas e grupos de executivos. Totalmente focada em como sair da zona de conforto no mundo corporativo e de que maneira entregar mais do que é esperado. Uma maneira disruptiva (sair do lugar comum para criar algo inovador) e questionadora de encarar os desafios e as exigências cada vez maiores no dia a dia de grandes empresas.
Como a paternidade mudou sua vida? Quais lições quer transmitir aos seus filhos?
Mudou radicalmente! É impressionante com a vida passa ser encarada de outra forma. Você passa a ter outros medos, e a entender que o seu bem-estar pessoal fica em segundo plano, pois os filhos viram a grande prioridade. Tudo é para agradá-los e protegê-los, visando a melhor educação, a melhor criação. E é aí o momento de dar e receber. Ao mesmo tempo em que você precisa de tolerância e paciência para ensiná-los, também é necessário ter muita sabedoria para aprender com criaturinhas especiais que estão com a gente por momentos passageiros. Por isso quero aproveitar ao máximo o convívio com meus dois filhos e minha esposa. Todos dizem que a infância passa voando e que, quando crescem, eles querem distância dos pais. Por isso vivo intensamente a paternidade agora.
Pingue Pongue:
Um livro de ficção: “Eu sou Charlotte Simmons – Tom Wolfe”.
Um livro de não-ficção: “Open – A Biografia de André Agassi”.
Ídolos ou personalidades admiradas: “Rafael Nadal, Roger Federer, Michael Jackson, Phill Collins, Bono Vox, Jimmy Fallon… A lista é extensa”.
Programas de TV aos quais assiste: “Assisto aos telejornais da Globo e, recentemente, tenho assistido à muitos TEDS (rápidas palestras de grandes pensadores contemporâneos). Ah, as séries também estão no meu cardápio. A do momento é Billions”.
Momento esportivo inesquecível: “Quando joguei uma partida de tênis com Roger Federer e, 1 ano depois, com Rafael Nadal. E as duas entrevistas exclusivas com Michael Phelps, o maior atleta olímpico da história”.
Entrevistado dos sonhos: “Gostaria muito de fazer uma exclusiva com Pelé, e aproveitar para tirar uma foto com ele pra guardar para a posteridade”.
Uma recordação especial da carreira: “Minha estreia no Esporte Espetacular. Foi um dos dias mais tristes e desafiadores da minha vida pessoal e profissional. Justo no meu primeiro programa tive a responsabilidade de comunicar ao vivo uma tragédia que abalou o Brasil (o incêndio na Boate Kiss, na cidade gaúcha de Santa Maria, que resultou na morte de mais de 240 pessoas). Foi um momento de muita dor. Precisei ter controle sobre minhas emoções. Por outro lado, vivi uma oportunidade de segurar a barra e corresponder profissionalmente. Jamais esquecerei”