Na terça-feira (30), o ‘Jornal Nacional’ exibiu um trecho do discurso de Jair Bolsonaro na cerimônia de filiação ao PL (Partido Liberal) de Valdemar Costa Neto. Chamou a atenção a declaração ufanista escolhida pelos editores para a matéria.
“Temos cada vez mais aberto um caminho enorme para construirmos aquela nação que nós todos queremos. Quem tem andado pelo Brasil vê cada vez mais, em qualquer lugar, as cores verde e amarela predominando, e muito, sobre o vermelho”, disse o presidente.
“Isso é um sinal de fé, confiança, esperança, honestidade. As cores da nossa bandeira... Nós todos fazemos conseguir brotar no coração do brasileiro o sentimento de patriotismo, de amor à Pátria.”
Um desavisado poderia acreditar que era uma live de Bolsonaro, e não o telejornal mais crítico a ele, e alvo frequente de ataques, xingamentos e deboches do presidente.
A matéria não teve repórter. O texto foi narrado pela âncora Renata Vasconcellos. Foram 2 minutos e 30 segundos de visibilidade positiva ao principal inimigo da Globo. Mas, antes de assoprar, o ‘JN’ mordeu de leve.
Logo na escalada (a leitura das manchetes na abertura do telejornal) houve crítica velada a Bolsonaro por ter trocado várias vezes de partido ao longo da carreira política.
Na sequência do material sobre o presidente, William Bonner destacou a negociação de Lula com o ex-governador Geraldo Alckmin para compor uma possível chapa na eleição do ano que vem. No ar, 20 segundos de um comentário do petista sobre o assunto.
Depois, Bonner informou nome e partido dos demais pré-candidatos ao Palácio do Planalto. Uma espécie de largada oficial da cobertura da corrida presidencial. O assunto já faz parte da pauta diária do telejornalismo.
O noticiário sobre os bastidores das campanhas pode ajudar o ‘Jornal Nacional’ a melhorar no Ibope. Após picos de audiência próximos a 40 pontos em 2021, o telejornal registrou recentemente recorde negativo abaixo de 20.
A saborosa guerra política tem potencial para atrair de volta o telespectador que se desinteressou pela abordagem cotidiana sobre a interminável pandemia de covid-19 e a deprimente crise econômica no País.