Jornalista de direita vira pessoa mais odiada da TV francesa

Éric Zemmour critica imprensa ligada à esquerda e já elogiou Bolsonaro, a quem chamou de “irmão mais novo de Trump”

12 out 2020 - 13h22
(atualizado às 13h23)

Há indivíduos que fazem questão de ser odiados. Um deles é o jornalista e ensaísta Éric Zemmour, uma das figuras mais polêmicas do jornalismo francês. Ele escreve para o jornal de linha editorial centro-direita ‘Le Figaro’ e participa de debates no CNews, canal de notícias criticado por outros veículos de mídia por dar cada vez mais espaço ao discurso da extrema-direita.

Para Éric Zemmour, o Brasil foi de exemplo positivo a “modelo que parece sombrio”
Para Éric Zemmour, o Brasil foi de exemplo positivo a “modelo que parece sombrio”
Foto: Reprodução

Na semana passada, jornalistas do ‘Le Figaro’ e do CNews divulgaram nota de repúdio a Zemmour, já condenado na Justiça por “incitação ao ódio”, e frequentemente acusado de ser racista, xenofóbico, homofóbico, machista e antifeminista. As redações das duas empresas jornalísticas pediram que o público e os anunciantes não façam parte do boicote sugerido por vários grupos humanitários em reação a artigos publicados e comentários ao vivo de Éric Zemmour.

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No início de outubro, o jornalista gerou mais uma repercussão bombástica ao classificar os menores imigrantes que são acolhidos na França como “ladrões, assassinos e estupradores”. Ele fazia referência direta ao paquistanês de 18 anos que, em setembro, feriu a faca duas pessoas por imaginar que elas eram funcionárias do jornal satírico ‘Charlie Hebdo’.

O rapaz admitiu estar revoltado contra o semanário em razão das charges de deboche a muçulmanos. Ele chegou a Paris três anos atrás na condição de menor desacompanhado. Ao comentar a condição desses refugiados, Éric Zemmour adotou posição considerada radical: “Eles não têm nada a fazer aqui, devem ser mandados embora (da França)”.

A reação foi tão explosiva que a âncora do programa ‘Face à l’info’, do qual o ensaísta participa, precisou se pronunciar. Única mulher negra no comando de uma atração da CNews, Christine Kelly disse que as opiniões de Zemmour não refletem o seu pensamento tampouco a posição oficial do canal. Ela é, de certa maneira, imigrante, pois nasceu em Guadalupe, pequena ilha caribenha que pertence à França, e se radicou em Paris a fim de realizar o sonho de trabalhar em uma grande emissora.

Crítico atroz da causa LGBT, do movimento antirracista e das pautas feministas, Éric Zemmour elogiou Jair Bolsonaro em artigo de novembro de 2018 no ‘Le Figaro’. Chamou o presidente do Brasil de “irmão mais novo de Trump na América Latina”. Escreveu que a imprensa de esquerda que critica o “ex-capitão do Exército saudoso da ditadura militar” é a mesma que minimiza a “única ditadura” na região, na Venezuela, País comandado pela extrema-esquerda.

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O criticado jornalista usou a realidade brasileira para justificar o seu nacionalismo. “No final do século 20, o Brasil era visto como um modelo dos benefícios da globalização e do multiculturalismo. Ele foi dado como exemplo à França. Vinte anos depois, o modelo parece sombrio: o crescimento suavizou, a violência aumentou ainda mais. O liberalismo multicultural é de fato o regime de guerra de todos contra todos.”

A última confusão suscitada por Zemmour tem a ver com a covid-19. Dias atrás, o polemista apresentou sintomas de contaminação pelo novo coravírus e passou a aparecer na TV por vídeochamada. Por conta do convívio com ele nas redações, dezenas de colegas do ‘Le Figaro’ e do CNews foram obrigados a praticar o isolamento social enquanto não recebem o resultado do teste.

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