Jovem desesperada por fama e sua mãe alienada se destacam em dramalhão da Globo

Ramille e Cris Vianna, de ‘Família é Tudo’, interpretam perfis comuns em uma sociedade que valoriza em excesso as subcelebridades

10 mar 2024 - 14h50

A canastrice está no DNA de Andrômeda, moça desafinada aspirante a pop star na nova novela das 19h da Globo, ‘Família é Tudo’, de Daniel Ortiz. Desde o primeiro capítulo, a atriz e cantora Ramille encontrou o tom certo da personagem. 

A jovem é tão deslumbrada e inconsequente que invade o palco do ‘Domingão com Huck’ para tentar um momento de estrelato. É retirada por seguranças, sob vaias da plateia e críticas do apresentador. 

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Acompanhada de dois bailarinos, os Asteroides (toda subcelebridade possui bajuladores a tiracolo), Andrômeda sustenta convicção de seu talento musical. Autoengano conduzido com a leveza da comédia. 

Bem-construída, a personagem retrata um tipo comum no universo artístico: aquele que acredita ter nascido predestinado ao sucesso mesmo sem apresentar dom nem vocação. A arte, definitivamente, não é para todos. 

Este sujeito refém da vaidade – e, muitas vezes, de indisfarçável complexo de inferioridade – busca a fama para se sentir melhor que os demais e, assim, solucionar profundas questões emocionais. 

Deseja a aprovação popular e a sensação de pertencimento a um grupo especial. Geralmente nunca atinge o objetivo e culpa os outros por sua inabilidade e o fracasso. Ou, quando chega ao topo, torna-se insuportável. 

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A insanidade de Andrômeda é alimentada por sua mãe, Lulu, uma ex-Miss Brasil que busca sair do ostracismo por meio da filha. Outra representação clássica: a mãe que joga gigantesca expectativa de minimizar as próprias frustrações sobre um descendente.

Cris Vianna se destaca nas poucas cenas. Uma atriz competente e carismática que faz do papel coadjuvante um momento especial. Merece mais espaço para desenvolver a própria trama ao invés de apenas orbitar em torno de Andrômeda. 

Aliás, o nome da aspirante a cantora se refere à galáxia que está a anos-luz de distância da Terra, assim como a personagem de Ramille se mantém desconectada da realidade. Viver num mundo à parte, mergulhado em ilusão, é uma fuga recorrente a muitos indivíduos. 

Para o filósofo prussiano Friedrich Nietzsche, esse comportamento faz parte da sobrevivência em um mundo opressor. “A mentira mais comum é aquela com a qual uma pessoa engana a si mesma”, escreveu. Resta descobrir até quando Andrômeda e Lulu vão acreditar na própria impostura.

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Andrômeda (Ramille) com a mãe, Lulu (Cris Vianna), e a pet Britney: a ânsia de ficar famosa para se sentir menos inferior
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Foto: Fotomontagem: Blog Sala de TV (Fotos: Divulgação/Globo)
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