A ação movida por Veruska Donato contra a TV Globo gerou manchetes nos últimos dias. Ela trabalhou como repórter e, por um período, foi apresentadora de um quadro em estúdio, entre 2000 e 2021.
Pede à Justiça o reconhecimento de vínculo empregatício no período em que atuou como PJ (Pessoa jurídica), sem direito aos benefícios de quem é CLT (carteira assinada).
Vai além: exige indenização por danos morais. Alega assédio para se enquadrar no padrão estético exigido por diretores do canal, segundo indica no processo.
Veruska diz ter sido pressionada, por e-mail, a mudar o figurino para disfarçar a ‘barriguinha’. Perto dos 50 anos, sentiu-se insegura com o suposto etarismo.
Argumenta ainda que a pressão na Globo a fez desenvolver a Síndrome de Burnout, caracterizada pelo esgotamento físico e mental em consequência de jornada excessiva de trabalho e estresse.
O pedido de indenização seria de R$ 13 milhões. A Globo não comenta questões jurídicas. Hoje, Veruska é âncora do telejornal ‘Balanço da Manhã’ na Record TV em Campo Grande (MS).
Por também se sentir prejudicados no bolso ou na saúde mental, outros jornalistas que se destacaram na emissora da família Marinho levaram a ex-empregadora aos tribunais.
Entre eles, Gloria Vanique (‘Bom Dia SP’), Lair Rennó (‘Encontro com Fátima Bernardes) e Izabella Camargo (‘Hora Um da Notícia’), esta última também diagnosticada com Burnout.
Um caso em uma importante afiliada da Globo no interior paulista, a TV Vanguarda, que tem o ex-vice presidente do canal, Boni, e diretor do ‘BBB’, Boninho, como sócios, chamou atenção na imprensa.
Alegando gordofobia, a repórter e apresentadora Marcela Mesquita conseguiu reparação na Justiça após, de acordo com seu relato, ter sido pressionada a perder peso para parecer mais magra no vídeo nos anos em que atuou na emissora regional.
Foi demitida pouco depois de voltar de uma licença-maternidade. Atualmente, está feliz como âncora na TV Thathi, afiliada do SBT no Vale do Paraíba.
Os casos citados confirmam o que já se sabe: a televisão é um ambiente tóxico. Quem trabalha diante de uma câmera vive sob pressão permanente.
Há cobrança pelo visual (envelhecer ou engordar vira um problema), por melhor desempenho (comparações com os colegas são a regra) e por audiência (muitas vezes, o profissional é reduzido aos números registrados no Ibope).
Como disse o repórter esportivo Bruno Laurence a um podcast, o jornalista de vídeo se dedica por 10, 12 horas diárias para mostrar seu trabalho no ar por poucos minutos.
Uma dinâmica cansativa e frustrante. Ele foi dispensado da Globo em 2016 sob a justificativa de que “não era bom” como antes.
A apresentadora Carina Pereira, do ‘Bom Dia Minas’ e do ‘Globo Esporte’, afirmou na Justiça ter sido alvo de sexismo — a discriminação baseada no gênero — da parte de um chefe na emissora.
A Globo fez uma investigação interna e afirmou não ter detectado assédio moral. Não convenceu o juiz da ação. Acabou condenada a pagar indenização de R$ 1 milhão.
Obviamente, os problemas descritos pelos jornalistas nos processos não são exclusividade da Globo. Acontecem em outras TVs.
As metas cada vez mais altas, a concorrência interna, maus gestores deslumbrados com pequenos poderes e o desafio de se manter em evidência no vídeo abalam até o mais obstinado e imperturbável jornalista.