Em agosto, a Globo anunciou acordo com a empresa norte-americana de hotéis, cassinos e jogos eletrônicos MGM Resorts International para o lançamento de uma casa de apostas no Brasil em 2025.
Este mês, o Grupo Silvio Santos, proprietário do SBT, confirmou o lançamento em breve da marca Todos Querem Jogar, em parceria com a empresa britânica de tecnologia de apostas esportivas Open Bet.
Outras redes de TV devem seguir o mesmo caminho. A exceção, talvez, seja a Record, do líder da Igreja Universal, bispo Edir Macedo. Evangélicos e protestantes são proibidos de tentar a sorte com jogos de azar.
As grandes emissoras já estão bastante envolvidas com as bets por meio das verbas milionárias de publicidade usadas para anunciar as plataformas de apostas nos intervalos comerciais e em ações de merchandising em atrações de grande audiência.
Não é de hoje que se usa o poder de influência da TV para estimular o brasileiro a arriscar seu dinheiro no sonho de ganhar uma ‘bolada’. A Telesena existe desde 1991 no SBT. Criado na mesma época com formato semelhante, o Papa-Tudo era divulgado na Globo.
Os canais terem sua própria casa de apostas eletrônicas é um passo bem maior. Estão de olho no faturamento potencialmente bilionário que pode sanar os problemas financeiros e garantir investimentos imprescindíveis, como a compra de novos equipamentos, tecnologias e formatos de programas.
Desde antes do abalo provocado pela pandemia em consequência de forte retração do mercado publicitário, as TVs sofrem para fechar o balanço no azul. Nem a poderosa Globo escapou: registrou prejuízo em dois anos seguidos. Com custos de operações cada vez mais altos, as emissoras resistem graças ao rendimento de seus investimentos bancários.
Possuir uma bet e anunciá-la dia e noite na programação deverá gerar um salto rápido nas receitas. A ‘Folha de S. Paulo’ noticiou que a movimentação em apostas no país pode chegar a R$ 216 bilhões em 2024. Um mercado com crescimento ilimitado e altamente lucrativo às empresas.
Mas há um aspecto alarmante: o endividamento dos apostadores, muitos deles chegando ao vício em jogos. Um dado fornecido pelo Banco Central ilustra o problema. Em agosto, beneficiários do Bolsa Família gastaram em apostas R$ 3 bilhões, 20% do total pago às famílias cadastradas no programa social.
A partir do momento em que Globo, SBT e outros canais conceituados lançarem sua própria bet, muita gente que hoje se sente insegura ou desinteressada em apostar ficará certamente mais estimulada a ‘fazer uma fezinha on-line’ por crer na idoneidade das emissoras.
O relevante componente ético precisa ser discutido em relação à jogatina oferecida pelas TVs, que são concessões públicas e devem explicações ao governo federal. Por isso, são imprescindíveis a regulação da indústria das apostas esportivas e uma conduta responsável da televisão.