O título deste texto usa duas palavras potencialmente ofensivas. Ninguém quer ser apontado como ‘velho’ e ‘gordo’ – menos ainda na mesma frase. Mas a realidade se impõe. Sim, estamos envelhecendo e engordando. A maioria de nós.
Símbolo de jovialidade, beleza selvagem e potência sexual da década de 1980 até o início dos anos 2000, Madonna agora sofre com o olhar impiedoso contaminado pelo etarismo e a gordofobia.
Aos 63, ela paga o preço por personificar o inevitável avanço do tempo e suas consequências pouco agradáveis ao físico humano. Move-se com dificuldade, exibe os quilos acumulados nos últimos anos e o rosto quase irreconhecível mistura as marcas da idade com a artificialidade de cirurgias plásticas invasivas.
No sábado, 30 de março, ela fez participação especial em um show de Maluma na Colômbia. Vídeos viralizaram. Não pela parceria artística no palco, e sim pelo impacto provocado pela aparência da cantora. Como alguém ainda esperava ver a mesma ‘material girl’ ou a silhueta esguia do clipe de ‘Hung Up’ depois de tanto tempo?
As redes sociais ficaram abarrotadas de comentários. Alguns colhidos no perfil de Instagram @MadonnaCollectionCamus: “Parece uma bêbada inchada”, “O close do rosto dela vai me fazer ter pesadelos”, “Ela arruinou a si mesma”, “Simplesmente trágico. Desista enquanto você está por cima”, “Se retire! Acabou, garota, quer dizer, vovó”, “Ela não é mais a Madonna”.
“Não é uma apresentação digna da rainha do pop”, opinou um espectador do evento. Aceitem: as rainhas também envelhecem. E nem todas querem se esconder em seus castelos para evitar o julgamento cruel da opinião pública.
Os vídeos com camadas e camadas de filtros rejuvenescedores que a artista posta – em vários deles sensualiza com caras e bocas a fim de seduzir quem a assiste – também geram reações de idêntica repulsão. Em entrevistas, a cantora disse ter noção de que está “gordinha”. Não comenta as esticadas exageradas com bisturi, admite apenas aplicações de botox.
E assim o maior ídolo feminino da música do século 20 se submete a uma metamorfose que ressalta a intolerância contra quem ousa envelhecer e, ao mesmo tempo, lutar com recursos tecnológicos contra esse fenômeno irrefreável da nossa natureza.
Se para um anônimo de aparência comum já não é fácil encarar o espelho após os 40, 50 anos, imagine a uma das mulheres mais famosas, copiadas e monitoradas do planeta. Uma camaleoa que mudou sua imagem várias vezes, lançou modismos e teve os homens que desejou.
“Somente evita a velhice quem morre jovem”, afirmou Marilyn Monroe, eternizada aos 36 anos. Precisamos normalizar a decadência das celebridades. Mesmo daquelas que se transformam em uma caricatura do que foram no seu auge. Sejamos menos severos, talvez isso ajude a preparar a própria pele para quando chegar a nossa vez de ficar irreconhecíveis.