Do conforto dos estúdios com ar-condicionado para os pequenos barcos oscilando nas águas sujas das enchentes. Âncoras de telejornais tiraram as roupas sociais, vestiram coletes salva-vidas e foram ao encontro das vítimas gaúchas das chuvas torrenciais.
Na Globo, William Bonner, de camiseta, passou dias circulando entre cidades alagadas. Mostrou que o jornalismo fica mais humanizado – e fiel à realidade – quando se olha nos olhos dos entrevistados no epicentro dos fatos.
Ele e um repórter da afiliada RBS foram hostilizados sob gritos de “Globo lixo” e acusações de exploração da tragédia por audiência. Seria melhor o canal de maior influência do País ignorar a catástrofe ou realizar uma cobertura burocrática?
Foi justamente a valiosa visibilidade que a TV deu ao desastre climático que impulsionou a solidariedade de milhares de brasileiros e pressionou as autoridades de todas as esferas a agir.
As tentativas de vilanizar a imprensa refletem a radicalização política e a manipulação ideológica da população. Cabe às emissoras, na condição de concessões do Estado, não se curvar à pressão e combater as fake news. Assim, o jornalismo reforça sua credibilidade e contribui à sociedade.
Entre as fragilidades do telejornalismo em 2024, a cobertura do duelo bélico entre Rússia e Ucrânia, e do conflito envolvendo Israel e os grupos Hamas e Hezbollah. O Brasil já teve alguns dos melhores repórteres de guerra em ação. Hoje, a maioria dos correspondentes noticia o cotidiano dos combates à distância.
Compreende-se a decisão da direção das emissoras de não arriscar a vida dos jornalistas e a opção de economizar usando material de agências internacionais e freelancers. Mas tal recurso empobrece a cobertura. Nada se iguala à narrativa de um repórter experiente em campo, sendo testemunha da notícia quando ela acontece.