Luana Piovani é uma das poucas artistas brasileiras realmente independentes. Não precisa de contrato com emissora de TV ou de renda obtida com monetização de redes sociais. Pode se dar ao luxo de atuar apenas quando e onde quiser.
Essa valiosa autonomia a permite criticar abertamente o mais popular reality show da televisão brasileira. Uma anti-BBB assumida que dá voz à numerosa parcela da população anônima que abomina o programa.
Na 22ª edição, ela ‘estreou’ como comentarista extraoficial devido à presença do ex-marido, Pedro Scooby, no elenco do Camarote. A visibilidade serviu para a atriz lamentar atitudes do surfista no relacionamento e na criação dos 3 filhos.
Desde sempre, tudo o que Piovani diz gera manchetes. Sem medo de polemizar e desagradar, ela usa as redes sociais para expurgar sentimentos que a incomodam. Uma autoanálise com o testemunho da plateia de 5 milhões de seguidores.
A dinâmica se repete neste ‘BBB24’. Desta vez, pela presença oculta de outro ex, Dado Dolabella, de quem foi vítima de agressão física. Assistir no reality a atual namorada dele, Wanessa Camargo, parece despertar antigas dores emocionais e físicas. Ela disse ver a “sombra de um criminoso” na cantora confinada.
Curiosamente, a primeira semana da presente edição foi marcada pelo machismo de alguns participantes. Fizeram observações depreciativas a respeito do corpo de competidoras e tiveram atitudes tóxicas, como tentar manipular o pensamento e gerar culpa, buscando se safar do julgamento pela própria escrotidão.
“Homens de merda, não se enxergam, estúpidos escolhidos pelo Boninho e idolatrados pelo Brasil… Mulheres, corram para as colinas”, se manifestou Luana, recebendo apoio dentro e fora da web.
Os posts da atriz geram relevante engajamento para o ‘BBB’. ‘Falem mal, mas falem de mim’ é a tônica que movimenta o reality mais amado e odiado do país. Ela presta um favor à Globo sem receber nada em troca. Ironicamente, já foi maltratada no canal.
Escolhida pessoalmente pelo autor Aguinaldo Silva para o papel de Marilda em ‘O Sétimo Guardião’ (2018-2019), acabou desconvidada sem explicação. Havia adiado planos para fazer a novela. Ficou no prejuízo.
Situação semelhante havia ocorrido em 1997, quando se viu excluída de um dos papéis principais do remake de ‘Anjo Mau’ após se recusar a esperar 4 horas pela chegada de outro ator para fazer uma foto de divulgação. A Globo prefere artistas mansos e obedientes.
Você pode não gostar de Piovani, desaprovar sua verborragia, achar aquela autoconfiança irritante, mas há de concordar: ela tem a rara coragem de ser e agir conforme sua vontade, alheia à expectativa do outro, sem precisar da aprovação popular. Um grau de emancipação difícil de atingir.
São personalidades como a da atriz que deveriam ser vistas no Camarote do ‘Big Brother’. Famosos sem medo de rejeição, dispostos a jogar explicitamente e pagar o preço pelas escolhas. Certamente não é fácil ser Luana Piovani, mas ter a liberdade como recompensa deve valer muito a pena.