Muitas pessoas estão espantadas com o tom crítico dos telejornais da Globo em relação ao presidente Michel Temer. Mas essa contundência não chega perto do tratamento incisivo que a Record tem dispensado a Joesley Batista. Nesta segunda-feira (22), por exemplo, o ‘Fala Brasil’ e o ‘Hoje em Dia’ exibiram matérias demolidoras sobre o dono da JBS.
“Como um criminoso assumido se refugiou nos Estados Unidos sem qualquer punição?”, questionou, indignada, a âncora Carla Cecato.
Em 14 minutos – duração longuíssima para os padrões do telejornalismo –, o veterano repórter Afonso Monaco apresentou em detalhes o “crime perfeito” do líder do clã Batista.
Ao se referir à “deleção premiada que incendiou o Brasil”, o texto não poupou o novo inimigo número 1 de Temer: “Enquanto o País mergulhava em uma nova crise política grave, o empresário podia gozar de uma vida bilionária no exterior, sem pagar pelos crimes que cometeu”.
A matéria ressaltou o crescimento da JBS durante os governos dos ex-presidentes Lula e Dilma, e os empréstimos do BNDES ao grupo, além de contestar o fato de Joesley e seu irmão, Wesley, jamais terem sido presos, apesar de serem alvo de cinco grandes operações da Polícia Federal.
“O exílio de Joesley Batista no exterior tem tudo para ser dourado”, ironizou a Record. O canal relembrou a suntuosa festa de casamento – “que teria custado 6 milhões de reais” – do magnata da carne com a apresentadora Ticiana Villas Boas, em 2012.
Para traçar um perfil psicológico do agora famoso (e famigerado) delator, a matéria ouviu um psiquiatra. “As gravações mostram uma personalidade calculista, capaz de atos de extremo risco sem demonstrar emoção”, informou Monaco.
Ficou no ar a suposição de que o dono da JBS pode ter um “transtorno de personalidade psicopática”, de acordo com declaração de Eduardo Ferreira-Santos, o especialista consultado pela reportagem.
Em outro momento, mais torpedos contra os Batista. “Existe o perigo de os irmãos Joesley e Wesley não perderem um centavo com a crise que provocaram”, alertou a matéria, ao lembrar as lucrativas e suspeitas operações financeiras realizadas pela JBS às vésperas da divulgação da delação.
O material da Record jogou luz em um personagem até então pouco citado na cobertura do escândalo: José Batista Junior, conhecido como Junior Friboi, irmão mais velho de Joesley e Wesley.
Diante da câmera da emissora, um advogado sugeriu que ele teria participação na “manipulação do preço do mercado da carne”.
A conclusão da matéria voltou a atacar Joesley, chamado de “personagem que, de bolsos cheios, deu as costas ao Brasil”.
É nítido o posicionamento da Record contra as ações – inclusive a delação – do proprietário da JBS. De certa maneira, o canal verbaliza o que pensa boa parte da população.
Globo, SBT, Band e RedeTV! têm sido menos bélicas em relação a Joesley e sua família. As críticas eventuais surgem por meio de comentaristas, não no contexto das matérias.
A indignação da Record não fere, em tese, a imparcialidade inerente ao bom jornalismo – desde que, por trás das críticas, não haja motivação eticamente questionável.