Pouco mais de 2 meses antes de a TV Globo ser inaugurada, Milton Gonçalves já era contratado da emissora. Sua carteira de trabalho foi assinada em 1º de fevereiro de 1965. Ele ajudou a colocar o canal no ar e formar o elenco.
Sua morte, aos 88 anos, encerra uma das mais importantes trajetórias na teledramaturgia brasileira. Foi o primeiro ator negro a ter papéis de destaque e o primeiro negro a dirigir novela.
A convite de Daniel Filho, ele dividiu a direção de ‘Irmãos Coragem’, de 1970, um dos mais populares folhetins de todos os tempos na televisão.
Seis anos depois, outra codireção deixou marca, a de ‘A Escrava Isaura’, novela sobre o Brasil escravagista que fez a Globo ser conhecida nos quatro cantos do planeta.
Atrás das câmeras, em vários trabalhos, ele enfrentou o racismo de atores que não aceitavam as ordens de um “diretor preto”, como relatou. Quando atuava, tentava fugir dos estereótipos e clichês associados ao homem negro.
Milton Gonçalves tinha a admiração do fundador da TV Globo, Roberto Marinho. “Você começou comigo e vai comigo até o fim”, disse a ele, certa vez, o empresário, falecido em 2003.
Como ator, influenciou várias gerações de artistas da arte dramática. Atuou no movimento negro e fez política. Era uma lenda viva. Nos bastidores, sempre acessível e sorridente. Um homem talentoso e nobre.