A pior inveja não é você querer aquilo que o outro tem, e sim desejar que ele perca tudo o que conquistou. O austríaco Alfred Adler, criador da psicologia do desenvolvimento pessoal, teorizou a respeito.
Em sua análise, o invejoso patológico age de tal maneira pelo complexo de inferioridade. Com baixa autoestima e sentindo-se fracassado, resta atacar quem ousou realizar o que ele não conseguiu.
Exemplo desse comportamento se vê nas redes sociais neste momento, em razão de Anitta conseguir emplacar um hit, ‘Envolver’, no Top 10 global do Spotify. Êxito inédito a um artista brasileiro.
A notícia, amplamente repercutida pela mídia e comemorada por fãs da cantora, gerou um tsunami de críticas vazias de supostos entendedores de música e deboches recheados de machismo, sexismo e misoginia.
Tentam desqualificar Anitta por ser uma mulher liberal, ter se submetido a plásticas, usar figurinos provocantes, chacoalhar a bunda nas coreografias, transar com todos os homens desejados, ser politicamente progressista, viver no luxo, etc.
Fazem o possível para minimizar os resultados da carreira dela. “Jamais será uma pop star”, torcem descaradamente. Respeitado nos quatro cantos do planeta, o maestro carioca Tom Jobim (1927-1994) eternizou um pensamento sobre isso. “No Brasil, sucesso é ofensa pessoal.”
A fama, a popularidade e a fortuna de um artista ou esportista incomodam por ressaltar a vida monótona e, às vezes, insignificante, de quem não aceita o anonimato, a falta de um talento especial para se destacar e a sobrevivência com dinheiro curto.
A suburbana Larissa rompeu com o destino que havia sido reservado a ela. Sonhou alto e correu atrás da concretização. Fez-se Anitta. Enquanto isso, a maioria dos brasileiros vive conformada em ser apenas mais um vulto na multidão e morrer sem deixar nenhuma obra, nenhum legado.
Certa vez, ao participar do ‘Roda Viva’, da TV Cultura, o ex-ministro Ozires Silva relatou um episódio emblemático. Em um jantar na Suécia, ele questionou a membros do comitê que concede o Prêmio Nobel por que nenhum brasileiro ganhou a honraria até hoje.
“Depois de umas doses de vodca, um deles disse que ia responder minha pergunta. ‘Vocês, brasileiros, são destruidores de heróis’. Foi uma pancada no estômago”, contou.
Infelizmente, o sueco tem razão. O brasileiro sente prazer em desprezar outro brasileiro – e gosta de endeusar os gringos por achar que são superiores. O velho complexo de vira-lata.
A torcida contra Anitta reforça nossa incapacidade de reconhecer a vitória alheia. Por outro lado, o incômodo que a artista provoca comprova seu triunfo. “O número dos que nos invejam confirma as nossas capacidades”, escreveu o dramaturgo irlandês Oscar Wilde.