Muitos criticam Anitta por inveja do que ela é, tem e pode

O brasileiro em geral resiste a aplaudir a ascensão social e o sucesso dos outros por mágoa de não conseguir o mesmo

20 mar 2022 - 11h28
Anitta chega a lugares onde nenhum outro brasileiro foi
Anitta chega a lugares onde nenhum outro brasileiro foi
Foto: Divulgação

A pior inveja não é você querer aquilo que o outro tem, e sim desejar que ele perca tudo o que conquistou. O austríaco Alfred Adler, criador da psicologia do desenvolvimento pessoal, teorizou a respeito.

Em sua análise, o invejoso patológico age de tal maneira pelo complexo de inferioridade. Com baixa autoestima e sentindo-se fracassado, resta atacar quem ousou realizar o que ele não conseguiu.

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Exemplo desse comportamento se vê nas redes sociais neste momento, em razão de Anitta conseguir emplacar um hit, ‘Envolver’, no Top 10 global do Spotify. Êxito inédito a um artista brasileiro.

A notícia, amplamente repercutida pela mídia e comemorada por fãs da cantora, gerou um tsunami de críticas vazias de supostos entendedores de música e deboches recheados de machismo, sexismo e misoginia.

Tentam desqualificar Anitta por ser uma mulher liberal, ter se submetido a plásticas, usar figurinos provocantes, chacoalhar a bunda nas coreografias, transar com todos os homens desejados, ser politicamente progressista, viver no luxo, etc.

Fazem o possível para minimizar os resultados da carreira dela. “Jamais será uma pop star”, torcem descaradamente. Respeitado nos quatro cantos do planeta, o maestro carioca Tom Jobim (1927-1994) eternizou um pensamento sobre isso. “No Brasil, sucesso é ofensa pessoal.”

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A fama, a popularidade e a fortuna de um artista ou esportista incomodam por ressaltar a vida monótona e, às vezes, insignificante, de quem não aceita o anonimato, a falta de um talento especial para se destacar e a sobrevivência com dinheiro curto.

A suburbana Larissa rompeu com o destino que havia sido reservado a ela. Sonhou alto e correu atrás da concretização. Fez-se Anitta. Enquanto isso, a maioria dos brasileiros vive conformada em ser apenas mais um vulto na multidão e morrer sem deixar nenhuma obra, nenhum legado.

Certa vez, ao participar do ‘Roda Viva’, da TV Cultura, o ex-ministro Ozires Silva relatou um episódio emblemático. Em um jantar na Suécia, ele questionou a membros do comitê que concede o Prêmio Nobel por que nenhum brasileiro ganhou a honraria até hoje.

“Depois de umas doses de vodca, um deles disse que ia responder minha pergunta. ‘Vocês, brasileiros, são destruidores de heróis’. Foi uma pancada no estômago”, contou.

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Infelizmente, o sueco tem razão. O brasileiro sente prazer em desprezar outro brasileiro – e gosta de endeusar os gringos por achar que são superiores. O velho complexo de vira-lata.

A torcida contra Anitta reforça nossa incapacidade de reconhecer a vitória alheia. Por outro lado, o incômodo que a artista provoca comprova seu triunfo. “O número dos que nos invejam confirma as nossas capacidades”, escreveu o dramaturgo irlandês Oscar Wilde.

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