Até um leigo em psiquiatria sabe: sociopatas e psicopatas não costumam demonstrar emoções. Quando o fazem, é pura dissimulação a fim de manipular quem está no seu entorno.
Catarina, a princesa má de ‘Deus Salve o Rei’, tem nas veias o sangue frio dos animais que possuem veneno. Ela não carrega sentimentos e sim objetivos – o poder é o principal deles, e para conquistá-lo será capaz de passar por cima do próprio pai, o íntegro rei Augusto (Marco Nanini).
Bruna Marquezine virou alvo fácil de críticas e ironias na imprensa e nas redes sociais por conta de uma interpretação considerada apática.
Quem a ridiculariza argumenta que a falta de oscilações emocionais da personagem seria um equívoco da atriz. Na minha visão, Marquezine está certa em conduzir Catarina com a rigidez do aço.
O carisma ausente da princesa-vilã é coerente com a época na qual se passa a trama. As pessoas eram bem menos sentimentais no tempo medieval, ainda mais numa corte e sendo herdeira de um trono.
E Bruna faz bem em distanciar o máximo possível sua atuação do desempenho espevitado de Marina Ruy Barbosa como Amália, a heroína da novela. Assim, evita injustas comparações.
O público e boa parte dos jornalistas de entretenimento preferem vilões com pitadas de humor. Mas, neste momento, os principais antagonistas da teledramaturgia da Globo não apresentam tal verve.
A Lucinda (Andrea Horta), de ‘Tempo de Amar’, a Sophia (Marieta Severo) de ‘O Outro Lado do Paraíso’ e a própria Catarina do folhetim das 19h são ruins o tempo todo, sem espaço para átimos cômicos.
Creio que o autor Daniel Adjafre, o diretor artístico Fabrício Mamberti e Bruna Marquezine não construíram Catarina para agradar o telespectador, e sim para cumprir um papel: incomodar com sua frieza de alma e a formalidade excessiva de seu tempo.
Sendo assim, a atuação não poderia estar mais correta.
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