Na terça-feira (12), o repórter Victor Ferreira e o repórter-cinematográfico Leandro Matozo foram atacados ao cobrir a celebração a Nossa Senhora Aparecida no santuário localizado no interior paulista.
“No final da tarde, nossa equipe decidiu gravar na parte externa da igreja, quando fomos surpreendidos por um apoiador do Presidente Bolsonaro. Ele nos abordou com xingamentos contra a TV e não parou. Em um determinado momento, disse: SE PUDESSE MATARIA VOCÊS”, contou Matozo no Twitter.
“Após essa ameaça, meu parceiro Victor Ferreira gritou para os policiais que estavam próximos. O agressor continuou me insultando e, em seguida, deu uma cabeçada no meu rosto. Meu nariz sangrou muito na hora. As medidas judiciais já estão em andamento.”
Os jornalistas consideraram que o apoio foi insuficiente. “Registramos uma ocorrência na PM, que não quis conduzir o agressor para a delegacia para não “prender a viatura” no DP, alegando uma tal resolução 150. O agressor foi liberado antes mesmo que nós e ainda pegou carona no carro da PM para voltar ao santuário”, relatou Victor.
Ele se surpreendeu ao descobrir a identidade do homem. “O mais triste é saber que o agressor é um professor de educação básica de uma escola estadual de Mogi das Cruzes. “Escola Sem Partido”, vão dizer por aí”, comentou. Apesar de ferido, Leandro Matozo não se deixou amedrontar. “A liberdade de imprensa é essencial para o progresso desse País. Não vão nos calar!!!”, tuitou.
Foi o segundo episódio de violência contra uma equipe ligada à Globo em apenas 4 dias. Na noite de sexta-feira (8), um homem também identificado como apoiador de Bolsonaro xingou jornalistas da TV Tribuna, afiliada da rede na Baixada Santista e no Vale do Paraíba, durante cobertura da visita do presidente ao Guarujá. Irado, o agressor deu um tapa na câmera.
Desde os protestos de 2013, durante a Presidência de Dilma Rousseff, profissionais de imprensa do canal da família Marinho se tornaram alvo de hostilidade nas ruas. A situação piorou após o início do mandato de Bolsonaro.
Um episódio igualmente grave aconteceu em abril do ano passado, quando a equipe da repórter Mariana Aldano foi cercada, insultada e ameaçada quando fazia uma transmissão ao vivo no telejornal ‘SP1’. “Globo lixo, vaza”, gritavam os simpatizantes de Bolsonaro.
Essas ocorrências de intimidação contra a imprensa servem de alerta a respeito da cobertura das eleições em 2022. Prevê-se um período de extrema tensão e risco para o trabalho jornalístico em consequência dos discursos radicais de políticos de direita e também da esquerda contra a mídia.
As emissoras de TV – especialmente a Globo – serão obrigadas a reforçar a segurança de suas equipes de externa e criar estratégias para mostrar eventos de campanha sem expor seus profissionais ao perigo iminente.
Não faltam eleitores extremistas dispostos a tirar sangue de jornalistas, assim como foi feito com Leandro Matozo em Aparecida. A direção dos partidos e o comando das forças policiais não poderão se omitir diante dessa ameaça real contra pessoas, a liberdade de imprensa e a democracia.