Um veículo de comunicação não pode ser dependente desse ou daquele profissional. Deve funcionar e manter o padrão de qualidade mesmo com mudanças profundas na equipe.
Na teoria, ok, mas, na prática, não é bem assim. O telejornalismo sofre quando perde nomes que fazem a diferença. Especialmente repórteres experientes com fontes quentes, estilo próprio de contar histórias e conexão com o público.
Por isso, a demissão de mais veteranos de vídeo da Globo suscita o questionamento a respeito do famoso padrão de qualidade do jornalismo da emissora. Abrir mão de tantos talentos vai afetar a essência da reportagem? Difícil responder.
A dispensa de Eduardo Tchao (especialista em pautas policiais), Mônica Sanches (do ‘Jornal Nacional’ e ‘Fantástico’) e Marcelo Canellas (referência de jornalismo humanizado) gera a impressão de empobrecimento da imagem do canal líder em audiência.
Aumenta o vácuo aberto pela demissão de outros jornalistas exemplares, como Ernesto Paglia, Edney Silvestre, Neide Duarte e Isabela Assumpção. Cada um deles dava uma contribuição relevante ao noticiário.
Imprimiam nas reportagens a memória de quem testemunhou fatos históricos, a tarimba de décadas com o microfone, a sensibilidade de enxergar o entrevistado como um ser humano complexo, o texto personalizado acessível a todos os perfis de telespectadores e o carisma desenvolvido na relação com a câmera.
O problema, para a Globo, é que esses profissionais com 20, 30, 40 anos de casa se tornaram ‘caros’ por ter salários mais altos. A TV que faturou R$ 15 bilhões em 2022 sacrifica seus ‘medalhões’ para economizar a fim de reverter o prejuízo de R$ 210 milhões registrado no balanço financeiro nos dois últimos anos.
A emissora apresentou um argumento ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio de Janeiro. “O representante da empresa afirmou que não se trata de demissões em massa e que os cortes atingirão os salários mais altos que, segundo ele, estão incompatíveis com o mercado”, diz trecho de comunicado da entidade representativa.
Como organização privada, o canal da família Marinho tem o direito de demitir quem quiser, respeitando as normas trabalhistas. Resta verificar se essa economia radical, a partir do descarte de repórteres tão associados ao seu jornalismo, não resultará em descaracterização e perda de qualidade.
Sabe-se que o clima nas redações da Globo é péssimo. Novas dispensas acontecerão nas próximas semanas. O temor de ser incluído nas listas do RH prejudica o desempenho de quem ainda está empregado.