Hoje, é impensável uma novela mostrar a protagonista colocando fim à própria vida. A pauta da saúde mental e a cultura do politicamente correto fariam qualquer emissora barrar esse desfecho trágico.
Afinal, telespectadores poderiam ser influenciados a fazer o mesmo e o canal arriscaria ser acusado de induzir ao suicídio, crime previsto no Código Penal Brasileiro.
Mas em 1980, o último capítulo de ‘Os Gigantes’ mostrou a personagem principal, Paloma, jogando o pequeno avião que pilotava contra o solo, após o público ouvir a narração dela de uma carta de despedida.
O final dramático foi condizente com a novela, uma das mais problemáticas da história da Globo. Houve rejeição logo no início porque Paloma desligou o aparelho que mantinha o irmão vivo após entrar em coma devido a uma cirurgia no cérebro.
O ato radical da protagonista foi criado pelo autor Lauro César Muniz para suscitar discussão sobre eutanásia. O público não quis debater a questão, apenas se revoltou com o que considerou um fratricídio, ou seja, crime entre irmãos.
Os outros temas da trama, como aborto e revolta contra empresas multinacionais, também não empolgaram a audiência. Nada funcionava.
Os bastidores eram igualmente tensos. A atriz Dina Sfat (1938-1989) detestava interpretar Paloma. Achava o texto ruim. Chegou a dar vários chiliques: pisoteava as páginas do roteiro no camarim e no estúdio. Ela rompeu com o autor e passou a fazer críticas a quem quisesse ouvir.
Lauro César Muniz acabou demitido. Considerada confusa e deprimente, ‘Os Gigantes’ derrubou a Globo no Ibope. Teve média geral de 49 pontos, 12 a menos do que a antecessora ‘Pai Herói’.