Novela da Globo ajuda a combater o preconceito contra o negro entre os gays

Cena de beijo entre rapazes pretos em ‘Vai na Fé’ representa um afeto raramente experimentado por esse perfil na comunidade LGBT+

18 jun 2023 - 10h03
(atualizado às 10h08)

Após ser acusada de censurar beijos entre duas mulheres na novela das 19h, ‘Vai na Fé’, a Globo exibiu no capítulo de sábado (17) um delicado beijo na boca entre Yuri (Jean Paulo Campos) e Vini (Guthierry Sotero). Os estudantes vivem um relacionamento afrocentrado, ou seja, entre pretos.

A presença de tais personagens em uma novela de sucesso da Globo, vista a cada noite por 5 milhões de pessoas somente na Grande São Paulo, contribui para a discussão de questões em torno do gay negro.

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A começar pelo racismo dentro do próprio meio de homens que se relacionam com outros homens. O preto costuma ser explicitamente rejeitado ou escolhido apenas para sexo anônimo. Neste caso, frequentemente vira alvo de excessiva fetichização por quem o vê como mera fonte de prazer descartável.

Ainda assim, há preferência pelo negro jovem, alto, musculoso, exclusivamente ativo, com pênis grande, sem qualquer trejeito afeminado (quanto mais ‘parecer hétero’, melhor), a desempenhar o papel de dominador. Uma representação de virilidade tóxica. O preto sem tais características, considerado ‘comum’, é raramente enxergado e desejado nas baladas e nos aplicativos de pegação. Um desprezo doloroso.

O youtuber e apresentador Spartakus Santiago fez um vídeo de desabafo a respeito, alguns anos atrás. “A sexualização do homem negro é me ver como objeto sexual. Não querem ter uma conversa, um afeto. Essa é nossa sina. A gente é visto como um corpo público usado para dar prazer aos outros.”

O depoimento comovente viralizou (assista no fim do post). Ele expôs o dano que o racismo gera à saúde mental desses homens negros preteridos ou meramente usados. Ajudou a popularizar o termo “solidão do gay preto”.

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Ainda em ‘Vai na Fé’, criada por Rosana Svartman, há importante representação do homossexual negro afeminado por meio do personagem Anthony, interpretado pelo ator Orlando Caldeira, declaradamente gay.

Em entrevista do ‘GShow’, o artista relatou o sofrimento experimentado ao revelar sua orientação sexual em família. “No intuito de querer me ajudar, entre muitas aspas, minha mãe me levou para um parapsicólogo para fazer sessão de regressão. E ele prometia que ia me curar, em uma mentalidade muito bizarra sobre a ‘cura gay’. Minha mãe gastou muito dinheiro nessas sessões, completamente na ilusão.”

Ainda que tenha algumas regressões quando o tema é promover a diversidade, a exemplo da censura do beijo entre Zeca (Erom Cordeiro) e Júnior (Bruno Gagliasso) no último capítulo de ‘América’ (2005), de Gloria Perez, a Globo dá valiosa colaboração à sociedade ao mostrar que os gays – e especificamente o homossexual preto – merecem ser respeitados e felizes.

Em 1995, a emissora fez história com o casal gay inter-racial Sandrinho (André Gonçalves) e Jefferson (Lui Mendes) na novela ‘A Próxima Vítima’. Conduzida pelo autor Silvio de Abreu ressaltando o afeto entre os personagens e o apoio familiar, a trama não enfrentou resistência do público.

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O mesmo ocorre agora com Yuri e Vini em ‘Vai na Fé’: há torcida por um final feliz entre os adolescentes apaixonados. Eles merecem. Toda pessoa merece.

Yuri e Vini vivem um relacionamento com altos e baixos, mas cheio de afeto, em 'Vai na Fé'
Yuri e Vini vivem um relacionamento com altos e baixos, mas cheio de afeto, em 'Vai na Fé'
Foto: Reprodução/TV

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