'Amor de Mãe' tem excesso de drama e escassez de emoção

Novela conceitual encontra dificuldade em empolgar o público acostumado com tramas populares

26 dez 2019 - 12h33
Thelma, Lurdes e Taís: elas sofrem quase o tempo todo, mas o noveleiro ainda não se comoveu
Thelma, Lurdes e Taís: elas sofrem quase o tempo todo, mas o noveleiro ainda não se comoveu
Foto: João Cotta/TV Globo / Divulgação

Nas quatro primeiras semanas de exibição, 'Amor de Mãe' marcou média de 29 pontos no Ibope. No mesmo período, a antecessora 'A Dona do Pedaço' registrou 32.

A atual novela das 21h da Globo ainda não decolou na audiência, mas é sucesso de crítica por inserir elementos da narrativa e da estética do cinema e das séries ao gênero de ficção mais consumido — e desgastado — da TV brasileira.

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No entanto, não consegue capturar o telespectador em seu ponto mais óbvio e sensível: a emoção. Há um exagero de dramaticidade que não gera o esperado envolvimento do público. 'Amor de Mãe' não tem repercussão expressiva nas redes sociais nem no boca a boca.

Trata-se de uma dramaturgia de qualidade acima da média. A autora Manuela Dias, estreante na cobiçada e complexa faixa das 9 da noite, constrói uma interessante teia de ligação entre os personagens principais. Mas não dá a eles o mesmo carisma arrebatador de Lurdes, vivida com vigor por Regina Casé.

As outras protagonistas — Vitória (Taís Araújo) e Thelma (Adriana Esteves) — também sofrem, temem e choram, porém, não conseguem se comunicar tão bem com os noveleiros. São críveis, mas não suficientemente humanizadas. Parecem apenas personagens, e não gente como a gente, ao contrário da intensa Lurdes.

O mesmo problema prejudica outros tipos e núcleos de 'Amor de Mãe'. O empresário Raul (Murilo Benício), por exemplo, apresenta comportamento robótico, distante do pretendido magnetismo de um don juan. O vilão Álvaro (Irandhir Santos) carece daquele charme da maldade que, em outros folhetins, fez boa parte do público até torcer contra os mocinhos da história.

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A verdade é que estamos (mal) acostumados com o humor escrachado de Aguinaldo Silva, as soluções mirabolantes de Gloria Perez, o texto popularesco de Walcyr Carrasco e, desde o fim de Avenida Brasil, escrita por João Emanuel Carneiro em 2012, aguardamos outra novela tão estimulante quanto.

'Amor de Mãe' ousa com nova proposta. Uma tentativa de oxigenar o formato. É um ponto positivo para a dramaturgia da Globo. Só precisa corrigir o distanciamento de alguns personagens e certas tramas em relação ao telespectador. Não dá para desenvolver empatia e engajamento por algo que não nos comove ou diverte.

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