Japoneses, chineses e coreanos têm numerosas comunidades no Brasil. Em algumas regiões, como São Paulo, eles tiveram forte influência na cultura, moda e gastronomia. Mas quase não se vê orientais na teledramaturgia. E, em algumas das raras aparições, foram retratados de maneira estereotipada, com o olhar pejorativo de quem não os conhece bem.
Essa questão veio à tona com o desabafo de Danni Suzuki em live com a atriz também de origem japonesa Bruna Aiiso. A artista disse ter perdido para Giovanna Antonelli o papel escrito especialmente para ela em Sol Nascente, novela das 18h exibida entre 2016 e 2017 na Globo.
O autor Walter Negrão sempre pensou na atriz como protagonista. Mas a Globo preferiu tirá-la da produção e mudar o perfil da personagem principal para encaixar Antonelli. Será que a emissora concluiu que Suzuki não era suficientemente famosa para liderar o elenco do folhetim e, por isso, optou por uma estrela consagrada pelo público e pela crítica? Ou considerou que parte dos telespectadores rejeitaria uma japonesa como grande heroína da história?
Após perder sua grande chance, Daniele ganhou o papel coadjuvante de prima da protagonista. Mas durou pouco: foi considerada “velha” para a personagem, ainda que seja mais jovem que Antonelli. Prometeram a ela um outro lugar na trama, porém a atriz desistiu do trabalho e nunca mais fez novela na Globo. Danni não esconde a decepção com o canal.
A televisão brasileira completa 70 anos este mês. Nessa longa trajetória, o telespectador viu poucos personagens orientais. A primeira e única protagonista de ascendência japonesa foi Rosa Miyake em Yoshico, um Poema de Amor, novela das 18h escrita por Lucia Lambertini e exibida entre janeiro e março de 1967 na TV Tupi. Era uma jovem por quem o milionário Luis Paulo (Luis Gustavo) se apaixonava durante viagem à terra das gueixas e dos samurais.
Nessas sete décadas, vários papéis de orientais foram interpretados por atores sem qualquer traço peculiar. Naquele mesmo 1967, às 20h, Yoná Magalhães surgia caracterizada para viver a protagonista Suzuki em A Sombra de Rebecca, escrita por Gloria Magadan para a Globo. Em 1970, Edney Giovanezzi interpretou Mário Yamashita em A Próxima Atração, também de Walter Negrão, no mesmo canal. Aliás, na polêmica Sol Nascente, a escalação de Luís Mello como um nissei gerou protestos.
Entre os precursores com origem no Oriente que conseguiram se destacar na teledramaturgia estão Cristina Sano (Roda de Fogo, Bebê a Bordo, Chiquititas, Morde & Assopra), Midori Tange (O Grito, O Espantalho, Carga Pesada, Os Imigrantes), Carlos Takeshi (A Viagem, Belíssima, Amor & Revolução, Amor Sem Igual) e Ken Kaneko (De Quina Pra Lua, Mundo da Lua, Cobras & Lagartos, Sol Nascente).