Ester Jablonski encara mudança com peça baseada em obras de Clarice Lispector: 'Me escuto mais'

Em entrevista à CARAS Brasil, Ester Jablonski comenta proximidade com o teatro após anos no jornalismo e detalha trabalho com obras de Clarice Lispector

28 mar 2025 - 11h31
(atualizado às 16h36)
A atriz e jornalista Ester Jablonski em Silêncios Claros
A atriz e jornalista Ester Jablonski em Silêncios Claros
Foto: Divulgação/Christiano Nascimento / Caras Brasil

A atriz e jornalista Ester Jablonski (68) permite ao público carioca um mergulho profundo em tudo que foi Clarice Lispector (1920-1977) por meio do espetáculo Silêncios Claros. Baseada em obras da escritora, a peça chega ao fim da atual temporada no próximo domingo, 30. Em conversa com a CARAS Brasil, Ester compartilha sua conexão com a obra e revela que encara mudança com a peça: "Me escuto mais", afirma.

Clarice no palco

No palco, Ester dá vida a quatro textos distintos de Clarice: O Grande Passeio, Uma Tarde Plena, A Fuga e Uma Galinha. Para cada obra, uma personagem distinta que se aproxima de um lado da autora. Para além do desafio de migrar entre textos distintos, a atriz conta que a encenação de Clarice no teatro exige uma abordagem cuidadosa.

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"Para além da dificuldade de dar teatralidade a um texto escrito para ser lido, há ainda o como traduzir a sua busca incessante pela expressão do 'instante já'. Este é o trabalho que tenho perseguido, narrar e ser ao mesmo tempo", explica Ester. O formato escolhido para Silêncios Claros não é uma adaptação comum, mas sim uma "presença" da autora em cena. "Um grande e belo exercício para um ator", completa a artista.

A seleção dos contos que compõem a peça, segundo Ester, aconteceu de forma intuitiva. "Lendo umas antologias dela — isso tem muitos anos, quando o projeto começou — segui meu impulso numa primeira leitura — contos simples, com camadas de humor, ironia, lirismo, memórias, e que de alguma forma poderiam compor uma 'estória'." Sobre a identificação com os textos, ela brinca que "depende muito do humor do dia".

Com uma proposta minimalista, o espetáculo deixa todo o protagonismo para as palavras: "Não queríamos que nada sobrepujasse a voz da Clarice. Por isso, nesta versão atual, é a voz dela, em áudio, que recebe o público", conta.

Diferentes caminhos

Originalmente concebido com Ítalo Rossi (1931-2011), o projeto ganhou novos contornos sob a direção de Fernando Philbert (56) após a despedida de Rossi. "São espetáculos totalmente diversos, ainda que os textos permaneçam como os originais escolhidos por mim junto com Ítalo, com quem desenvolvi uma longa amizade, parceria, até a sua morte". Com Philbert, a atriz destaca o amadurecimento e a continuidade desse processo artístico.

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Nas mãos de ambos, o foco do projeto foi unir as diferentes expressões de Clarice que já são naturalmente mescladas em suas obras. "Simplesmente expressamos o que ela traz nos textos, um humor delicado, irônico, crítico, fruto da sua acurada observação da vida e condição humana. Ela tem forte empatia e acolhimento às dores e conflitos íntimos das pessoas, e dos animais".

Assim como a peça, que passou por mudanças desde seu surgimento até a apresentação mais recente, a trajetória de Ester acompanha esse movimento: a atriz é dona de uma carreira extensa na TV e no jornalismo, mas valoriza o teatro por sua singularidade.

"O contato direto com a 'respiração' do público, o que afeta diretamente o estar em cena. Por isso é corrente, usual, dizermos que no teatro nenhum dia é igual ao outro. O que também sempre traz uma dose grande do imponderável, que não pode ser corrigida por um novo take ou edição."

Projetos futuros

Para a artista, a experiência de viver Clarice Lispector nos palcos trouxe transformações pessoais que a acompanharão em seus próximos passo. "O estar em cena após tantos anos com um 'mesmo' trabalho, especialmente este, também vai abrindo cada vez mais camadas internas minhas, me permitindo um olhar mais pra dentro do que me inibe, assusta, ou era invisível. Tem me permitido me escutar mais", declara.

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Com o fim da temporada no Rio, a atriz confirma que novas apresentações estão previstas para maio, em São Paulo, na Arena B3. "E algumas possibilidades no Rio, editais ainda, e talvez viagens, em avaliação". Para além do atual projeto, ela também vislumbra novos rumos: "Afinal, é de projetos que se faz a vida".

Caras Brasil
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