O bom humor de Taís Araújo salta aos olhos. Divertida e simpática, a atriz consegue imprimir esse mesmo carisma nas personagens que interpreta. Mesmo quando são perfis de papéis bem distintos. Basta olhar tipos como a vilã cômica Ellen, de Cobras & Lagartos, ou a romântica Preta, protagonista de Da Cor do Pecado. Atualmente na pele da jornalista Verônica, em Geração Brasil, Taís representa as emoções típicas de uma heroína romântica. Mas também flerta com a comédia, característica que acompanhou com mais força seus últimos trabalhos, como O Dentista Mascarado e Cheias de Charme. "Fazer humor é muito novo na minha vida, estou tentando descobrir e lidar com isso. Não é fácil, mas eu gosto", assume.
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Os quase 20 anos de carreira na tevê de Taís são permeados por personagens importantes. Entre eles, a protagonista de Xica da Silva, quando ainda tinha 17 anos, e a "empreguete" Penha, em Cheias de Charme. Traçar uma trajetória tão bem-sucedida, no entanto, nunca fez parte dos planos da atriz. "Quando olho para trás, eu falo: 'Meu Deus, que sorte!'", conta, aos risos.
Em Geração Brasil, Verônica é uma mulher do perfil batalhadora, que trabalha e cuida do filho sozinha. Qual foi seu Norte para construir a personagem?
Taís Araújo -
Com a Verônica, eu queria trazer uma mulher normal, comum, aquela nossa vizinha do lado. Essa era a minha maior preocupação e o que eu mais queria imprimir na personagem. Acho que consegui.
Mas você buscou esse caminho a partir de uma orientação da direção?
Taís Araújo -
Não. Foi uma coisa que eu achava que tinha de ter porque a novela vinha de um universo muito acima, muito distante, que é a Califórnia. Achava que seria bacana ter uma mulher que representasse as pessoas. E a Verônica é um pouco essa representação do povo. Ela não entende de computação, "apanha" para lidar com isso. Foi uma leitura que eu tive sobre a personagem.
Sua última novela, Cheias de Charme, foi assinada por Filipe Miguez e Izabel de Oliveira e dirigida pela equipe de Denise Saraceni, assim como em Geração Brasil. O sucesso do trabalho anterior contribuiu para você aceitar participar do atual?
Taís Araújo -
Eu aceitei esse trabalho sem nem ler o que era. E acho que foi a mesma coisa para quem fez
Cheias de Charme. A gente leu muito depois e fechou pela parceria mesmo, por acreditar nos autores e por ter tido uma experiência linda em
Cheias de Charme. Foi nessa onda de acreditar na caneta e no potencial dos autores.
Penha, sua personagem em Cheias de Charme, também era uma mulher batalhadora. Em algum momento, houve uma preocupação sua para não se repetir em cena na pele de Verônica?
Taís Araújo -
Em nenhum momento. Acho que são personagens completamente diferentes, apesar de serem duas mulheres populares. É outra história. Não encontrei nenhuma similaridade entre elas. Mas acho que as pessoas ficaram um pouco com medo, sim.
Que pessoas?
Taís Araújo -
A direção. Às vezes, eu apontava para um caminho e eles falavam algo nesse sentido. Mas eu tinha tanta certeza de que não eram papéis parecidos, de que as minhas referências eram outras.
Quais foram essas referências?
Taís Araújo -
As heroínas de comédia romântica. Peguei desde Bridget Jones (do filme
O Diário de Bridget Jones) a Erin Brockovich (do filme
Erin Brockovich: Uma Mulher de Talento), pela coisa mais investigativa. As minhas referências eram tão outras, que era impossível ficar igual. Claro que é a mesma atriz que está fazendo e
Cheias de Charmeé um trabalho recente. Mas eu tinha muita certeza do caminho e que não era o mesmo caminho da Penha. Era mais da comédia romântica mesmo.
Essa certeza deixou você mais à vontade para viver a personagem?
Taís Araújo -
Na verdade, me deu um Norte. À vontade, a gente nunca fica até que estreia, até que passa. Hoje, posso dizer que estou mais à vontade. Quer dizer, nem tão à vontade.
Como assim?
Taís Araújo -
Como eu sabia que, em algum momento, a heroína romântica ia chegar, botei os dois pés na comédia no início. Foquei na comédia para depois ter mais esse ingrediente na hora de fazer o drama. Quando apareceu a heroína romântica na Verônica, pensei: "E agora, o que eu faço?". Aí, dá mais uma insegurança. Você tem de pegar aquilo que já tinha construído e adicionar essa fórmula mais tradicional de heroína de novela. Mas é legal porque nisso você enriquece.
Inclusive, seus últimos trabalhos na tevê tiveram uma pegada mais cômica. Você sente que tem facilidade em viver tipos engraçados?
Taís Araújo -
Não é facilidade. Eu sou uma pessoa bem-humorada naturalmente, mas isso não quer dizer absolutamente nada quando você vai fazer humor. Acho que lá atrás, em
Xica da Silva, já tinha um pouquinho de humor. Mas o que me fez trabalhar mais em comédia de fato foi
Cheias de Charmee
O Dentista Mascarado. Aí, é um exercício que eu tenho feito de tipos variados. Em
Cheias de Charme, eu fazia um tipo de humor, em
O Dentista Mascarado, fazia outro. E, nessa novela, faço outro. É muito novo na minha vida, estou tentando descobrir e lidar com isso, mas eu gosto. Agora, não é nada fácil (risos).
Por quê?
Taís Araújo -
Acho mais difícil fazer humor do que drama. Porque, no humor, tem a coisa do tempo, que é muito preciso. No drama, não, você vai conquistando, ganhando, o tempo ajuda você. Na comédia, o tempo não está a seu favor, é você que tem de correr atrás dele. O que eu acho que facilitou a minha vida nesses três últimos trabalhos foi o fato de eu estar cercada de pessoas que sabiam fazer comédia muito bem. Agora, em
Geração Brasil, tenho o Leandro Hassum e a Débora Lamm. Na verdade, acho que eu vou acompanhando eles, correndo atrás. Quando estamos a Débora, o Hassum e eu, temos a maior preocupação.
Em que sentido?
Taís Araújo -
Porque são três atores que têm o tom muito acima. Um tem de descer para o outro subir. Normalmente, a gente deixa o Leandro subir. Nossas personagens têm outras histórias. Então, a gente fala: "Esse é o momento do Leandro brilhar". E comédia é isso, você tem de entender que não é de todo mundo o tempo inteiro. Tem o cara que é o atacante, que vai fazer o gol. E, quando a gente está com o Leandro, o gol é sempre dele (risos).
Você já experimentou diferentes horários de novelas. Tem preferência por algum?
Taís Araújo -
Amo fazer novela das sete. Acho que é tudo mais leve. Tem uma pressão em cima de novela das oito que é chata. É o Brasil inteiro olhando aquilo, as pessoas meio sendo técnicas. É uma pressão que acaba não sendo muito saudável. Acho que novela das sete você faz com mais leveza, você respira melhor.
Inclusive, em geral, seus trabalhos em tramas das sete foram bem-sucedidos...
Taís Araújo -
Foram. Eu tive mais boas experiências em novela das sete do que em novela das nove. Tem gente que ama fazer novela das nove porque, realmente, tem uma diferença de retorno, tem mais gente em casa assistindo.
Você costuma interpretar protagonistas e papéis de destaque. O tamanho de um personagem é importante para você?
Taís Araújo -
Não. O importante é qualidade. Já tive personagem grande que era ruim, não quer dizer absolutamente nada. Mas isso também é o tipo de coisa que você vai aprendendo conforme vai amadurecendo na carreira, vai envelhecendo e vivendo outros personagens. Você vê que tamanho, de fato, não é documento. E um bom personagem você identifica na hora, na sinopse. Com a Verônica foi assim. Quando vi a sinopse, imediatamente eu identifiquei que era uma personagem que tinha função dentro da trama. Isso é fundamental.
É isso que você analisa antes de aceitar um papel ou outros elementos, como equipe de direção e elenco, também contam?
Taís Araújo -
Analiso tudo. Tudo pesa. Por exemplo, para essa equipe de agora, eu falei "sim" sem nem ter lido nada. Por causa dos autores, por causa da Denise. Eu só tenho história boa com a Denise, desde
Da Cor do Pecado. A equipe dela é a mesma desde sempre, então tem uma coisa de querer estar bem. Claro que eu tenho vontade de trabalhar com outras pessoas, mas me sinto muito à vontade. É muito gostoso trabalhar com quem você conhece, confia e que acredita em você. Mais do que acredita, que apostou em você. A Denise apostou em mim. Ela apostou em mim em
Da Cor do Pecado. Depois, em
Cheias de Charme, quando eu vinha de uma experiência muito malsucedida em
Viver A Vida, ela apostou em mim de novo. Eu não quero trabalhar com essa mulher? Quero trabalhar com essa mulher para sempre! Ela aposta em mim o tempo inteiro.
Tijolo por tijolo
Assim como Verônica, Taís Araújo é formada em Jornalismo. Mas o ponto em comum com a personagem não chegou de fato a ajudá-la no processo de composição. "Só porque a pessoa é formada em Jornalismo não quer dizer que ela seja jornalista. Quem faz o profissional é o dia a dia, a redação", constata. Já os amigos jornalistas que a atriz tem serviram como fonte de referência.
Mas Taís também se baseou bastante na própria intuição. Assim que leu a sinopse, lembrou de alguns filmes. Além disso, pegou dicas com Luiz Henrique Nogueira, que vive Sílvio em Geração Brasil e também é seu amigo. "Ele é a pessoa mais referenciada que tem no mundo. Viu todos os filmes e peças. Depois, lembrei da Erin Brockovich, que acho que dá a base para a personagem. Se eu ficasse só pela comédia romântica, poderia ficar um pouco leve demais", salienta.
Desejos de menina
Logo no início da carreira, Taís Araújo interpretou um papel que rende comentários até hoje. Na pele da personagem-título de Xica da Silva, a atriz protagonizou cenas para lá de sensuais e chamou a atenção não só do público, mas de autores e diretores de televisão. Tanto que engatou um trabalho atrás do outro nos anos seguintes. Mas, até então aos 17 anos, ela passava pelas mesmas dúvidas que uma adolescente comum. Achava que queria ser diplomata, mas também se interessava pela carreira de dentista. "Comecei a trabalhar tão cedo que a vida acabou me levando para a única coisa que eu sei fazer. Eu seria péssima dentista. Odeio ficar trancada em um lugar, não tenho a menor habilidade manual, não sei fazer uma reta com uma régua! Diplomata, talvez, eu fosse um pouquinho melhor...", imagina, bem-humorada.
Trajetória Televisiva
- "Tocaia Grande" (Manchete, 1995) - Bernarda.
- "Xica da Silva" (Manchete, 1996) - Chica da Silva.
- "Anjo Mau" (Globo, 1997) - Vívian.
- "Meu Bem Querer" (Globo, 1998) - Edivânia.
- "Porto dos Milagres" (Globo, 2001) - Selminha Aluada.
- "O Quinto dos Infernos" (Globo, 2002) - Dandara.
- "Da Cor do Pecado" (Globo, 2004) - Preta.
- "Cobras & Lagartos" (Globo, 2006) - Ellen.
- "A Favorita" (Globo, 2008) - Alícia.
- "Viver a Vida" (Globo, 2009) - Helena.
- "Cheias de Charme" (Globo, 2012) - Penha.
- "O Dentista Mascarado" (Globo, 2013) - Sheila.
- Geração Brasil (Globo, 2014) - Verônica.