À primeira vista, Leandra Leal em nada lembra as mocinhas românticas que interpreta na TV. Prática e "sem papas na língua", ela profere um discurso seguro, de quem conhece profundamente as engrenagens da profissão.
Filha da atriz Ângela Leal e neta do produtor cultural Américo Leal, fundador do Teatro Rival, Leandra cresceu no meio artístico e tem intimidade com os estúdios e os palcos desde novinha. Mesmo assim, quando o assunto é sua primeira protagonista da faixa das 21 horas, a Cristina de Império, ela economiza nas palavras e age de forma quase protocolar.
"O que eu posso dizer é que estou apaixonada pela minha personagem. Quando você está no meio do processo, é muito difícil fazer uma avaliação", resume.
Cristina é a grande heroína da novela de Aguinaldo Silva. Logo no início, sofre vários baques. A mãe morre, o irmão é preso, o camelódromo onde trabalha pega fogo e descobre que é filha de José Alfredo, milionário interpretado por Alexandre Nero. Além disso, Tuane, papel de Nanda Costa, mãe do sobrinho que Cristina cria como se fosse filho, aparece querendo o menino de volta.
"De uma hora para a outra, a personagem é colocada como chefe da família", explica Leandra. Apesar de tudo isso, a atriz jura que o papel não vai cair para o lado da mocinha sofredora. "Trata-se de uma personagem forte, esperta e que trabalha desde criança", salienta.
Assim como todo o elenco de Império, Leandra participou de workshops com o preparador Eduardo Milewicz. Nem todos se encontraram, já que o processo foi dividido por núcleos. Ela também se reuniu, durante uma semana, com os atores com quem vai contracenar mais para intensificar os estudos do texto antes do início das gravações.
"As cenas são cheias de camadas e os personagens têm profundidade. Então, focamos muito no texto", conta.
A busca por referências para a personagem foi mais além. Leandra havia assistido ao filme Erin Brockovich - Uma Mulher de Talento, de Steven Soderbergh, antes de iniciar a preparação para Cristina, e percebeu que poderia absorver algumas informações da personagem de Julia Roberts.
"No longa, a mocinha é moderna, tem problemas, mas é batalhadora. Acho que Cristina tem essa pegada, mas é uma mulher brasileira e contemporânea", compara a atriz, que também aproveitou algumas características próprias. Entre elas, a forte relação que mantém com a mãe. "Minha personagem também tem uma coisa de liderança com a qual me identifico", acrescenta.
Esta não é a primeira vez que Leandra interpreta um texto de Aguinaldo Silva. A atriz já atuou em outras tramas do autor, como A Indomada, de 1997, e Senhora do Destino, de 2004. Outra parceria que se repete em Império é entre ela e Drica Moraes, que vive a vilã Cora, tia de Cristina na história. As duas contracenaram em O Cravo e A Rosa, de 2000.
"É muito legal trabalhar com ela. Naquela novela, nossos papéis tinham uma relação parecida com a de agora. Só que a personagem da Drica era a madrasta que dava uma torturadinha na minha e era algo mais evidente", recorda.
Cabelos a favor
O trabalho de composição que Leandra Leal fez para encarnar a heroína de Império não está entre os mais complexos. O ponto que ganhou atenção especial da atriz foi o estudo do próprio texto de Aguinaldo Silva. Mesmo assim, mudar o visual para viver uma nova personagem a ajudou nesse caso.
"Eu estava com o cabelo muito curto e achava que Cristina tinha uma coisa mais feminina até do que eu. Acredito que o cabelo comprido dá essa feminilidade", ressalta.
Para alongar os fios, Leandra colocou mega hair. Algo com o qual está acostumada por já ter passado pelo processo para outros papéis. Por isso, tira de letra os cuidados que precisa ter, como pentear os cabelos com uma escova especial. "O mega hair incomoda, mas não é um drama", frisa.
Instantâneas
# Leandra Leal começou a fazer teatro aos 7 anos.
# A estreia na televisão aconteceu quando ela tinha 8 anos, em uma participação no último capítulo de Pantanal, em 1990.
# Acostumada a frequentar o Saara - centro de comércio popular do Rio de Janeiro -, a atriz nem precisou de laboratório para se ambientar ao camelódromo em que sua personagem trabalha. "Não é um local estranho para mim, é muito perto do Teatro Rival. Vou lá todos os dias um mês antes do Carnaval", revela.
# Seu primeiro papel de destaque na TV foi a cigana Yanka, de Explode Coração, exibida pela Globo em 1995.