Em 12 de dezembro de 1990, há 34 anos, a TV Manchete estreava A História de Ana Raio e Zé Trovão, novela que inovou ao abandonar os estúdios e viajar pelo Brasil para retratar a cultura das festas de peão e o interior do país. Durante dez meses, a produção rodou 14 mil km com caravana em rodeios para gravar cenas reais do mundo dos peões.
Aventura televisiva
Segundo o jornalista Nilson Xavier, do site Teledramaturgia, A História de Ana Raio e Zé Trovão não era a primeira opção da Manchete para seguir o sucesso Pantanal, mas questões logísticas impediram a produção imediata de Amazônia, obra planejada com antecedência, e o folhetim sobre peões ganhou espaço.
Jayme Monjardim, diretor da emissora, inspirou-se no universo dos rodeios após visitar a Festa do Peão de Barretos e idealizou um projeto ambicioso. Com as palavras "Ana Raio" e "Zé Trovão", entregou a missão aos roteiristas Marcos Caruso e Rita Buzzar, que desenvolveram a trama "nas coxas", como contou Caruso em uma entrevista à Playboy resgatada por Xavier.
O objetivo era explorar "o Brasil que o Brasil não conhece", slogan da Manchete na época. Com uma proposta de gravações itinerantes e 100% em externas, a novela desbravou locações inéditas na teledramaturgia brasileira.
Trama em movimento
A história girava em torno de Ana Raio (Ingra Liberato), que buscava sua filha Maria Lua (Micaela Góes), e Zé Trovão (Almir Sater), em busca de suas origens. Ambos cruzavam caminhos enquanto enfrentavam a vilania de Dolores Estrada (Tamara Taxman) e Canjerê (Nelson Xavier). Apesar do enredo promissor, a narrativa enfrentou dificuldades para manter o ritmo ao longo de dez meses no ar.
A novela ganhou destaque pela integração com as comunidades locais e pela autenticidade de seus cenários, mas sofreu com a falta de apelos folhetinescos, o que comprometeu a audiência. Segundo o Teledramaturgia, quando comparada com a audiência de Pantanal, o resultado era desanimador: o índice caiu pela metade, e os picos de telespectadores chegaram a apenas um terço da antecessora.
Para pesar ainda mais, a história tinha um alto custo para emissora, já que toda a gravação aconteceu em viagens fora dos estúdios. De acordo com o Almanaque da TV, A Manchete investiu 8 milhões de dólares na obra, valor que incluía transporte, montagem e desmontagem de equipamentos, ajustes diários de luz e figurino, além dos salários do elenco.
Mesmo com as dificuldades de audiência e críticas ao ritmo da trama, A História de Ana Raio e Zé Trovão marcou pela ousadia de sua produção. A novela apresentou ao público locações brasileiras nunca vistas e inovou ao levar a teledramaturgia para fora dos estúdios.