Em 5 de maio de 1997, a Globo estreava Zazá, novela de Lauro César Muniz que incomodou ao mostrar exploração infantil no estado do Tocantins e provocou defesa de autor. A obra polêmica, que passou por altos e baixos durante sua exibição, foi disponibilizada no Globoplay no final de 2024, em 30 de dezembro. Saiba mais sobre a nova novela no catálogo do streaming.
Denúncia social e repercussão negativa
Zazá foi uma novela de cunho muito social: além do autor aproveitar o folhetim para refletir sobre a Aids, Muniz escolheu abordar, também, a exploração do trabalho infantil por meio da personagem Maria Olímpia (Cláudia Ohana), militante e integrante de uma ONG que denunciava essas práticas.
Como relembra o jornalista Nilson Xavier, do Teledramaturgia, a trama expôs a realidade de crianças trabalhando na construção civil em Palmas, no Tocantins, e apresentou soluções como campanhas de solidariedade para inserir esses menores na escola, com apoio de empresários locais.
Entretanto, moradores de Palmas criticaram a forma como a novela retratou a situação do estado. O auge da polêmica, segundo Xavier, foi a cena em que Maria Olímpia pede ajuda à protagonista Zazá (Fernanda Montenegro) para salvar um menino de 12 anos forçado a trabalhar com a perna quebrada.
Em um trecho resgatado do jornal O Globo por Sebastião Uellington Pereira e relembrado pelo Teledramaturgia, a defesa de Lauro César Muniz sobre as críticas foi destaque: o autor afirmou que a intenção era denunciar um problema nacional, não prejudicar a imagem do estado. Segundo o autor, a escolha de Palmas se baseou em informações de ONGs sobre problemas sociais na cidade.
Produção com altos e baixos
Na biografia Lauro César Muniz Solta o Verbo, o autor relatou todo o caminho com a novela cheia de bons e maus momentos. "Zazá era uma farsa gostosa que me divertia muito. Tinha tudo para dar certo (…) E começou muito bem, excelente receptividade do público, da imprensa, da emissora", destacou.
Mesmo com a boa recepção inicial, a trama desandou pelo ritmo frenético imposto pelo texto e a necessidade de Muniz em dividir o trabalho com colaboradores donos de estilos muito distintos. "Escrevi praticamente sozinho até o capítulo 70, mas depois comecei a cansar. A farsa exige um permanente brilho, um ritmo frenético, para esconder uma certa falta de credibilidade da ação. Eu estava esgotado demais e comecei a dividir o trabalho com colaboradores. O resultado não era o mesmo de quando eu escrevia sozinho", explicou na época.
"Surgiu um agravante: Rosane e Aimar tinham estilos muito diversos. Ela tem um humor sutil, refinado, ele ao contrário um humor pesado, quase amargo, escrachado. Tentei dar uma unidade, mas o tempo era curto, os capítulos começaram a ficar atrasados. Eu errara em juntar os dois, que começaram também a entrar em choque pessoal", concluiu. As tentativas de ajustar o tom da novela, incluindo transformar a trama em um grande drama, resultaram em queda ainda maior de audiência.
Mesmo com a baixa audiência, a novela, que originalmente teria 161 capítulos, foi prolongada por mais 50 episódios a pedido da Globo, visando cobrir problemas de produção de Corpo Dourado. Zazá chegou ao fim em 10 de janeiro de 1998, totalizando 215 capítulos em oito meses de exibição.