Após 120 capítulos, ‘Renascer’ tem média de 26 pontos de audiência. Índice relevante, porém, abaixo da expectativa. Esperava-se atingir e até ultrapassar a casa dos 30.
Deve ficar no ar até o início de setembro, ou seja, há cerca de 70 a 80 capítulos pela frente. Tempo suficiente para uma reação no Ibope, ainda que seja improvável crescimento suficiente para fazê-la se igualar a ‘Pantanal’.
Exibido entre março e outubro de 2022, o remake de trama da extinta TV Manchete registrou em 167 capítulos 29.7 pontos, arredondados para 30, sendo considerado um sucesso.
Criadas e escritas por Benedito Ruy Barbosa, as duas novelas foram adaptadas por seu neto, Bruno Luperi. Ele foi feliz em grande parte das decisões para adequar os roteiros de três décadas atrás à realidade do momento.
Comparações são sempre injustas, mas, neste caso, inevitáveis. ‘Pantanal’ funcionou com romances convincentes, fartura de personagens carismáticos, humor presente, momentos hipnóticos (como o das cantorias em torno da fogueira) e paisagens de tirar o fôlego.
‘Renascer’ carece da maioria desses elementos. Falta especialmente um amor arrebatador que capture a torcida do público. O protagonista irascível, José Inocêncio (Marcos Palmeira), suscita ranço. O fôlego cômico é minguado e, mesmo sendo um folhetim rural, pouco se mostra do deslumbre da região onde é ambientado.
Bons personagens giram em torno deles mesmos em ações repetitivas. A sucessão de dramas sem solução deixa a novela sombria e arrastada. Há momentos valiosos, como os acontecimentos em torno da jovem transexual Buba (Gabriela Medeiros), coadjuvante com aura de heroína contemporânea.
O desempenho de ‘Renascer’ no Ibope é impactado também pela crescente migração para os canais pagos, as plataformas de streaming e outros meios digitais de entretenimento. Há 30 anos, a TV aberta reinava, hoje, briga com concorrentes poderosos para manter sua relevância na maioria das residências.
Nas redes sociais, posts afirmam que a atual novela das 21h envelheceu mal. Não é verdade. Resistiu bem às mudanças sociais do tempo. Nós é que não acompanhamos a ficção da TV com os mesmos olhos. Somos mais criteriosos e céticos, menos sugestionáveis e encantados.
Nestes 30 anos de pequenas e grandes revoluções comportamentais e tecnológicas, a vida nos tornou menos sensíveis para embarcar nas propostas lúdicas da teledramaturgia. Ao invés de repetir “as novelas eram melhores antigamente”, devemos questionar se parte do problema não está em quem as assiste atualmente.