Tapas, empurrões e gritos acordaram os telespectadores de A Dona do Pedaço. Na segunda-feira (5), a cena da sova de Maria da Paz (Juliana Paes) em Josiane (Agatha Moreira) deu fim à letargia dos noveleiros. As redes sociais festejaram a pancadaria.
A produção das 21h da Globo precisava mesmo de um chacoalhão. Vinha em ritmo lento e temperatura morna, sem a imprescindível ação dramatúrgica que serve para despertar de tempos em tempos a atenção de quem ainda se propõe a acompanhar um folhetim diário.
Teoricamente, o descontrole colérico da mãe traída foi um ato de justiça contra a filha golpista. Na prática, uma reação violenta que fez vibrar o sadismo de cada telespectador.
Ao testemunhar uma agressão contra um personagem odioso como Josiane, a maioria do público sente-se de alguma maneira vingada – afinal, quem nunca pensou em fazer o mesmo com um desafeto ou inimigo da vida real?
A ficção serve para dar vazão a sentimentos represados. Mexe com emoções normalmente não exteriorizadas.
Em certas circunstâncias, como a apresentada em A Dona do Pedaço, cutuca aquele impulso de violência intrínseco que, graças a um verniz de civilidade, mantemos sob hibernação na maior parte do tempo.
Em algumas teorias filosóficas, o indivíduo violento reclama o direito legítimo de praticar a violência como resposta à opressão sofrida. Para o célebre pensador francês Jean-Paul Sartre, “a violência, seja qual for a maneira como ela se manifesta, é sempre uma derrota”.
Surras em novelas sempre fizeram sucesso. Como esquecer o sangue que Maria do Carmo (Susana Vieira) tirou da ‘raposa felpuda’ Nazaré (Renata Sorrah) em Senhora do Destino ou o escândalo que a ‘cachorra’ Laura (Claudia Abreu) deu ao ser espancada por Maria Clara (Malu Mader) em Celebridade?
Nesses momentos catárticos da teledramaturgia, o noveleiro perde o pudor em aplaudir a violência. É ficção, mas revela muito a respeito de comportamentos e sentimentos reais.