“Melhor viver um ano como tigre do que cem anos como ovelha”, disse Madonna. Em 2023, ela precisou do vigor de um animal selvagem para sobreviver e se reinventar.
Às vésperas do início da turnê pelos 40 anos de carreira, passou mal e foi parar na UTI. Recuperada, fez shows estrondosos na Europa. Mostrou, aos 65 anos, que a coroa de rainha do pop continua na sua cabeça. E ainda estrelou comercial de um banco brasileiro.
Com 34, Taylor Swift também lotou estádios com ‘The Eras Tour’, assim como Beyoncé, aos 42, fez com ‘Renaissance’. No palco, mais do que hits, essas cantoras entregaram incentivo a mulheres de todas as idades para enfrentar os obstáculos machistas do mundo.
Personificando a imagem de ‘pobre menina rica’, Larissa Manoela, 23, teve a coragem de dar seu grito de liberdade contra a opressão dos pais. Abriu mão da fortuna para ganhar algo bem mais valioso: a liberdade. Priorizando a vida íntima ao invés da ostentação à mídia, se casou discretamente.
Uma agressão do então marido mudou de ponta cabeça a vida de Ana Hickmann, 42. Caiu a ficha do histórico de abusos no casamento e da perda do patrimônio construído com trabalho árduo desde a adolescência.
Valente, a apresentadora enxugou as lágrimas, assumiu o controle total de seu destino e passou a usar o poder de influência para incentivar vítimas semelhantes a reagir para também dar a volta por cima.
Ícones das décadas de 1980, Xuxa, 60, e Angélica, 50, revisitaram a carreira – falando abertamente de dores emocionais e do assédio atrás das câmeras – em documentários do Globoplay.
Corajosas, elas inspiram outras mulheres a tomar as rédeas da própria existência e dizer “não” sempre que necessário, especialmente para pessoas tirânicas e à pressão social para evitar a qualquer custo o envelhecimento.
A repórter Renata Ceribelli, 58, levou o videocast ‘Prazer, Renata’ ao ‘Fantástico’ e entregou um dos melhores conteúdos do ano na TV. Exibir mulheres comuns, inclusive mais velhas, descobrindo ou redescobrindo o prazer sexual foi uma pequena revolução.
A economia e a política dominaram o telejornalismo. Na GloboNews, Natuza Nery, 46, apresentou incontáveis notícias em primeira mão e análises coerentes, às vezes, com irresistível pitada de bom humor. Ela é craque em destrinçar a informação em linguagem compreensível e ganha pontos por humanizar a imagem do âncora. Prova que leveza não tira credibilidade.
Talentosas e carismáticas, Ana Castela, 20, e Simone Mendes, 39, furaram a bolha misógina da música sertaneja para brilhar em carreira solo. A voz poderosa de ambas canta não apenas feridas de amor, mas também o feminismo.
Em reality shows, dois destaques. A valorização em ‘Ilhados com a Sogra’ (Netflix) da tão demonizada figura da mãe do companheiro ou companheira e o domínio das mulheres em ‘A Fazenda 15’, onde Rachel Sheherazade, 50, Márcia Fu, 54, e Jaquelline Grohalski, 29, se projetaram como poucas vezes se viu nesse tipo de programa.
Nas novelas, as veteranas roubaram a cena. Em ‘Vai na Fé’, Renata Sorrah viveu momento especial aos 76 anos. Atriz no ostracismo, sua personagem vocalizou a crueldade do etarismo e divertiu o telespectador com metalinguagem relacionada à própria história da televisão.
A trôpega ‘Fuzuê’ começou a se equilibrar quando jogou holofotes sobre Lília Cabral, 66. Com inigualável sensibilidade em cena, ela comoveu o público em cenas dramáticas.
Irregular, ‘Terra e Paixão’ foi salva pela atuação consistente de Gloria Pires, 60, e Eliane Giardini, 71. Os embates entre as vilãs Irene e Agatha estão entre os poucos momentos eletrizantes da trama morna.
A teledramaturgia precisa da experiência e o charme das atrizes maduras. As novinhas que sentem, observem e aprendam.
Esta retrospectiva termina com uma citação da escritora, ativista antirracista e pelos direitos femininos Alzira dos Santos Rufino, morta aos 73 anos em abril. “Se poder é bom, mulher negra quer poder.”
Mais poder a todas as brasileiras em 2024.